Essa semana peguei pra ler o livro Igreja: Carisma e Poder de Leonardo Boff.
Um livro que descreve de forma bem clara o modo como o homem branco, cristão ocidental em sua sede de poder massacrou fisicamente e ideologicamente os que julgavam ser primitivos ou atrasados.
Gostaria primeiramente de falar sobre o autor pra depois falar sobre um dos topicos do livro. Leonardo Boff nasceu em Concórdia, Santa Catarina, no dia 14 de dezembro (conhecidência?) de 1938. Fez seus estudos primários e secundários em Concórdia-SC, Rio Negro-PR e Agudos-SP. Cursou Filosofia em Curitiba-PR e Teologia em Petrópolis-RJ. Doutorou-se em Teologia e Filosofia na Universidade de Munique-Alemanha, em 1979. Ingressou na Ordem dos Frades Menores, Franciscanos, em 1959.
Em 1984, lancou "Igreja: Carisma e Poder", em razão de suas teses ligadas à Teologia da Libertação, apresentadas no livro, foi submetido a um processo pela Sagrada Congregação para a Defesa das Fé, ex Santo Ofício, no Vaticano. Em 1985, foi condenado a um ano de "silêncio obsequioso" e deposto de todas as suas funções editoriais e do magistério no campo religioso.
Bom, nesse livro notei uma semelhança ente o meu lamento e as ideias do autor sobre a questão histórica ainda não resolvida da forma como foram tratados os índios e os afrodescendentes durante a Colonização. O cristianismo em geral sempre mostrou sensível ao pobre, mas implacável e etnocêntrico diante da alteridade cultural e a cor da pele dos fieis. O outro (o indígena e o negro) sempre foi considerado o inimigo, o pagão e o infiel. Contra ele se moveram "guerras justas" e caso não fosse aceito se legitimava a submissão forçada e as vezes a tortura e a morte.
Mesmo dispondo de indignação moral não quero usar esse espaço pra atacar os efeitos dos trabalhos dos padres e da Igreja e nem levantar uma bandeira indigenista. Aqui vou expor fatos historicos com a intenção de lembrar a todos que durante 140 anos, no sul do Brasil, índios guaranis e padres jesuítas viveram uma experiência utópica que terminou com o massacre de 100 mil índios
Na intenção de propagar os princípios do Cristianismo entre povos não-cristãos. Foram criadas as Missões Jesuiticas que se baseavam nos princípíos da teologia em cumprimento do mandamento de Jesus Cristo e seus Apóstolos para pregarem o Evangelho pelo mundo. Muitas vezes faziam uso da força causando impacto cultural destrutivo sobre os povos nativos, suprimindo ou transformando radicalmente suas culturas originais e justamente por isso muitas delas encontraram forte resistência, dando origem a revoltas sangrentas onde muitos perderam suas vidas
Com a instalação das Missões os índios antes livres, coletores e caçadores que plantavam somente o que comeriam nos tempos imediatos, sem preocupação com o futuro se aculturavam na marra, passando a viver a vida dos brancos sem a menor chance de preservar o que quer que fosse seu. Enquanto à Coroa interessava expandir os limites das terras sob o comando da Companhia de Jesus que pretendia acalentar o projeto de um Estado teocrático.
Mas para entender melhor essa longa convivência, de quase um século e meio, é preciso voltar ao início, por volta de 1610, quando as primeiras reduções foram estabelecidas, no atual limite entre o Paraguai e o estado brasileiro do Paraná. Os índios das Missões, cujos humores guerreiros haviam sido abrandados pelo cristianismo, viraram presas fáceis dos bandeirantes oriundos de São Paulo que corriam o Sul em busca de riquezas e de mão-de-obra escrava.
Não sou hipocrita a ponto de acreditar que antes dos primeiros cristãos terem contatos com esses povos ele viviam em um mar de rosas. Mas se antes havia o respeito e relativa paz a partir do momento que os brancos chegaram também trouxe com ele a fome, doenças e guerras em nome de interesses privadíssimos.
E no dia da Consciência Negra venho lembrar a todos dos crimes históricos cometidos contra a humanidade como noutros tempos ocorreu em Canudos, no Contestado e em Palmares. Fora os que ocorreram em outros paises...
Que todos saibam que história não pode ser negligenciada.