Como saber se podemos confiar nas pessoas?
Sinceramente não sei. A mente de cada um é um livro lacrado, o máximo que podemos fazer é vislumbrar algumas páginas com muito custo, entretanto, é impossível ter certeza (absoluta/ Pleonasmo). Não podemos prever exatamente o futuro, então, em nossa busca por certezas, somos muitas vezes forçados à olhar para o passado, e ignorar o presente como constante.
Mas de uma coisa eu sei. Para confiar é preciso coragem, pois entendo que a verdadeira liberdade encontra-se na doação de si mesmo ao outro, e quanto mais nos doamos, mas nos tornamos livres. O mesmo pode ser afirmado com relação a categoria existencial, pois somente o que é capaz de nos dar alegrias é capaz de nos elevar a nos constituir como pessoas humanas em sua plenitude, pois se a vida é um dom, existir é uma tarefa de cada Indivíduo.
Edificar o sentimento de coragem e confiança é essencial para que nós como indivíduos singulares possamos superar o estágio “vegetativo-sensitivo” ao qual fomos condicionados pelo mundo. Essa é a sede da verdadeira vida que deve ser a causa do edificante, e esta verdadeira vida se encontra não no amor mas na confiança e na coragem de arriscar-se.
Certa vez li que para voarmos devemos arremesar primeiro a alma, que o corpo vem em seguida...
Talvez isso explique minha particular adimiração pelos trapezistas. Homens simples como nós, dotados de medos mas que ousam e arriscam tudo na precisão de um segundo. Da mão que se estende da mão que procura, dos corpos que balançam harmoniosamente e que de súbito se projetam no vazio. Gosto do seu jeito de voar, da imperiosa necessidade de todos os seus gestos, da sua vocação de salvar vidas. Gosto porque jogando, levam a vida a sério, gosto porque decidem, sem tempo para hesitar. Gosto porque confiam e porque tem coragem...
Nesse fim de semana cheguei a conclusão que a vida deve ser vivida em sua inteireza contingencial, com todos os desdobramentos que esta nos apresenta. Pois existir é estar no mundo, de forma plena, não almejando o céu ideal agregado ao nosso imaginário, que serve sempre de subterfúgio quando somos confrontados a viver em absoluta responsabilidade para com os outros, enquanto pessoas clamam por amor e compaixão a partir do chão real da existência. Viver é arriscar, pois a vida exige que a encaremos sem mascaramentos, sem anteparos, sem segurança e desfechos previsíveis
Arriscar é, portanto, preciso. Acordar para o mundo é preciso. Encante-se com as portas que se abrem à frente a cada novidade que surge em sua vida. Não permita que a porta se feche antes que você tenha visto o que havia do outro lado. As pessoas que ficam assim começam, depois de alguns anos, a sentir um enorme vazio no peito. Só então saem desse estado permanente, acordam para o mundo e constatam, decepcionadas, que não criaram nada, não arriscaram nada, não aproveitaram nada. O problema é que isso costuma acontecer tarde demais...
Bom, esse é meu ponto de vista. Quanto a debater sobre "por que vale à pena correr o risco" ou qualquer outro assunto que tenda ao romantismo e/ou escatológico deixo a cargo de quem ler esse post. Mas que todos saibam que a recompensa pode ser simples mais é a mais gratificante do mundo. Um momento, um sorriso, um olhar, uma nesga de luz que oculta contextualizações mais complexas que as divagações da fala e do ouro podem oferecer...
*Esse pequeno tratado é para uma pessoa especial que, por motivos óbvios, omiti o nome. O que não retira nem um pouco a beleza do texto. Deixei para fazer essas considerações no final para que o subjetivismo não maculasse a leitura. Espero que tenham gostado.