sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Reflexões sobre as Missões Jesuiticas

Essa semana peguei pra ler o livro Igreja: Carisma e Poder de Leonardo Boff.
Um livro que descreve de forma bem clara o modo como o homem branco, cristão ocidental em sua sede de poder massacrou fisicamente e ideologicamente os que julgavam ser primitivos ou atrasados.
Gostaria primeiramente de falar sobre o autor pra depois falar sobre um dos topicos do livro. Leonardo Boff nasceu em Concórdia, Santa Catarina, no dia 14 de dezembro (conhecidência?) de 1938. Fez seus estudos primários e secundários em Concórdia-SC, Rio Negro-PR e Agudos-SP. Cursou Filosofia em Curitiba-PR e Teologia em Petrópolis-RJ. Doutorou-se em Teologia e Filosofia na Universidade de Munique-Alemanha, em 1979. Ingressou na Ordem dos Frades Menores, Franciscanos, em 1959.
Em 1984, lancou "Igreja: Carisma e Poder", em razão de suas teses ligadas à Teologia da Libertação, apresentadas no livro, foi submetido a um processo pela Sagrada Congregação para a Defesa das Fé, ex Santo Ofício, no Vaticano. Em 1985, foi condenado a um ano de "silêncio obsequioso" e deposto de todas as suas funções editoriais e do magistério no campo religioso.
Bom, nesse livro notei uma semelhança ente o meu lamento e as ideias do autor sobre a questão histórica ainda não resolvida da forma como foram tratados os índios e os afrodescendentes durante a Colonização. O cristianismo em geral sempre mostrou sensível ao pobre, mas implacável e etnocêntrico diante da alteridade cultural e a cor da pele dos fieis. O outro (o indígena e o negro) sempre foi considerado o inimigo, o pagão e o infiel. Contra ele se moveram "guerras justas" e caso não fosse aceito se legitimava a submissão forçada e as vezes a tortura e a morte.
Mesmo dispondo de indignação moral não quero usar esse espaço pra atacar os efeitos dos trabalhos dos padres e da Igreja e nem levantar uma bandeira indigenista. Aqui vou expor fatos historicos com a intenção de lembrar a todos que durante 140 anos, no sul do Brasil, índios guaranis e padres jesuítas viveram uma experiência utópica que terminou com o massacre de 100 mil índios
Na intenção de propagar os princípios do Cristianismo entre povos não-cristãos. Foram criadas as Missões Jesuiticas que se baseavam nos princípíos da teologia em cumprimento do mandamento de Jesus Cristo e seus Apóstolos para pregarem o Evangelho pelo mundo. Muitas vezes faziam uso da força causando impacto cultural destrutivo sobre os povos nativos, suprimindo ou transformando radicalmente suas culturas originais e justamente por isso muitas delas encontraram forte resistência, dando origem a revoltas sangrentas onde muitos perderam suas vidas
Com a instalação das Missões os índios antes livres, coletores e caçadores que plantavam somente o que comeriam nos tempos imediatos, sem preocupação com o futuro se aculturavam na marra, passando a viver a vida dos brancos sem a menor chance de preservar o que quer que fosse seu. Enquanto à Coroa interessava expandir os limites das terras sob o comando da Companhia de Jesus que pretendia acalentar o projeto de um Estado teocrático.
Mas para entender melhor essa longa convivência, de quase um século e meio, é preciso voltar ao início, por volta de 1610, quando as primeiras reduções foram estabelecidas, no atual limite entre o Paraguai e o estado brasileiro do Paraná. Os índios das Missões, cujos humores guerreiros haviam sido abrandados pelo cristianismo, viraram presas fáceis dos bandeirantes oriundos de São Paulo que corriam o Sul em busca de riquezas e de mão-de-obra escrava.
Não sou hipocrita a ponto de acreditar que antes dos primeiros cristãos terem contatos com esses povos ele viviam em um mar de rosas. Mas se antes havia o respeito e relativa paz a partir do momento que os brancos chegaram também trouxe com ele a fome, doenças e guerras em nome de interesses privadíssimos.
E no dia da Consciência Negra venho lembrar a todos dos crimes históricos cometidos contra a humanidade como noutros tempos ocorreu em Canudos, no Contestado e em Palmares. Fora os que ocorreram em outros paises...
Que todos saibam que história não pode ser negligenciada.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Coragem e Confiança

Como saber se podemos confiar nas pessoas?
Sinceramente não sei. A mente de cada um é um livro lacrado, o máximo que podemos fazer é vislumbrar algumas páginas com muito custo, entretanto, é impossível ter certeza (absoluta/ Pleonasmo). Não podemos prever exatamente o futuro, então, em nossa busca por certezas, somos muitas vezes forçados à olhar para o passado, e ignorar o presente como constante.
Mas de uma coisa eu sei. Para confiar é preciso coragem, pois entendo que a verdadeira liberdade encontra-se na doação de si mesmo ao outro, e quanto mais nos doamos, mas nos tornamos livres. O mesmo pode ser afirmado com relação a categoria existencial, pois somente o que é capaz de nos dar alegrias é capaz de nos elevar a nos constituir como pessoas humanas em sua plenitude, pois se a vida é um dom, existir é uma tarefa de cada Indivíduo.
Edificar o sentimento de coragem e confiança é essencial para que nós como indivíduos singulares possamos superar o estágio “vegetativo-sensitivo” ao qual fomos condicionados pelo mundo. Essa é a sede da verdadeira vida que deve ser a causa do edificante, e esta verdadeira vida se encontra não no amor mas na confiança e na coragem de arriscar-se.
Certa vez li que para voarmos devemos arremesar primeiro a alma, que o corpo vem em seguida...
Talvez isso explique minha particular adimiração pelos trapezistas. Homens simples como nós, dotados de medos mas que ousam e arriscam tudo na precisão de um segundo. Da mão que se estende da mão que procura, dos corpos que balançam harmoniosamente e que de súbito se projetam no vazio. Gosto do seu jeito de voar, da imperiosa necessidade de todos os seus gestos, da sua vocação de salvar vidas. Gosto porque jogando, levam a vida a sério, gosto porque decidem, sem tempo para hesitar. Gosto porque confiam e porque tem coragem...
Nesse fim de semana cheguei a conclusão que a vida deve ser vivida em sua inteireza contingencial, com todos os desdobramentos que esta nos apresenta. Pois existir é estar no mundo, de forma plena, não almejando o céu ideal agregado ao nosso imaginário, que serve sempre de subterfúgio quando somos confrontados a viver em absoluta responsabilidade para com os outros, enquanto pessoas clamam por amor e compaixão a partir do chão real da existência. Viver é arriscar, pois a vida exige que a encaremos sem mascaramentos, sem anteparos, sem segurança e desfechos previsíveis
Arriscar é, portanto, preciso. Acordar para o mundo é preciso. Encante-se com as portas que se abrem à frente a cada novidade que surge em sua vida. Não permita que a porta se feche antes que você tenha visto o que havia do outro lado. As pessoas que ficam assim começam, depois de alguns anos, a sentir um enorme vazio no peito. Só então saem desse estado permanente, acordam para o mundo e constatam, decepcionadas, que não criaram nada, não arriscaram nada, não aproveitaram nada. O problema é que isso costuma acontecer tarde demais...
Bom, esse é meu ponto de vista. Quanto a debater sobre "por que vale à pena correr o risco" ou qualquer outro assunto que tenda ao romantismo e/ou escatológico deixo a cargo de quem ler esse post. Mas que todos saibam que a recompensa pode ser simples mais é a mais gratificante do mundo. Um momento, um sorriso, um olhar, uma nesga de luz que oculta contextualizações mais complexas que as divagações da fala e do ouro podem oferecer...

*Esse pequeno tratado é para uma pessoa especial que, por motivos óbvios, omiti o nome. O que não retira nem um pouco a beleza do texto. Deixei para fazer essas considerações no final para que o subjetivismo não maculasse a leitura. Espero que tenham gostado.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Na Natureza Selvagem





"E também sei como é importante na vida não necessariamente ser forte
mas sentir-se forte
Confrontar-se ao menos uma vez
Achar-se ao menos uma vez na mais antiga condição humana
Enfrentar a pedra surda e cega a sós sem outra ajuda além das próprias mãos e cabeça"

Into the wild

O filme "Na natureza selvagem" mexeu muito comigo. Não ia escrever sobre ele porque as facetas são tantas que me sinto inapto em repertório, principalmente filosófico. Me resta ousar escrever com material volátil que são minhas sensações e mais refinado que são minhas vivências.

Eu entendo a sombra do personagem Chris. Entendo a rebeldia, entendo a raiva, entendo a dor que ele carrega e os extremos a que ele se propõe. Por entender e me conectar com elas, foi possível seguir além de fascinação e empolgação adolescentes. Por ter vivenciado algumas boas vezes a importância da ousadia e da coragem, entendo cada lágrima da primeira vez que ele viu animais no Alasca ou quando cravou em madeira sua história.
Quando falta alguma coisa dentro da gente parece que na mesma medida somos preenchidos por aquilo. Como o cactos mesmo, viver no seco cheio de água dentro, vez por outra na noite solitária gerar lindas e fugazes flores e finalmente chorar quando mata a sede de alguém. Sim, chega o derradeiro momento em que temos que matar a sede de alguém senão nada faz absoluto sentido. Para isso, muitos momentos de confronto "seco" podem ser necessários.
Acima de tudo quero crer que o que nos salva sempre é um bom coração. E minha esperança é que o temos sempre a disposição seja qual for a sombra que nos acompanhe.
Muitas vezes precisamos chegar ao extremo para perceber coisas importantes, outras percebemos observando os erros alheios, lendo um livro, assistindo um filme, mas hoje penso que os aprendizados mais significativos são fruto de vivência intensa e que isso nos leva a uma maior e elevada consciência. Com o coração puro, alma livre e olhar novo, experimentar o que chama a alma seja lama ou lótus.

Talvez isso que desconcerte e fascine no filme: esse cara experimentou! Esse cara incomoda a partir disso. Como incomoda o mestre tão leve, tão centrado, tão compassivo. Sua lógica de paz incomoda, a lógica anárquica de Chris incomoda tanto quanto. Porque no fundo queremos muito mais que apenas aventuras para contar, coisas para mostrar, identidades que nos dêem um alto grau de aceitação.
Somos ousados por natureza, uma ousadia tão grandiosa que não nos aquietamos até sentirmos que fomos além de nós mesmos.

Por último, falo sobre a Natureza, impossível subestimar sua beleza e força. Os orientais têm essa sabedoria muito mais integrada que nós e quem já se atirou de alguma forma ao contato profundo com ela pode compreender do que falo. A Natureza é um mestre muito simples e muito poderoso, destrói qualquer ilusão de superioridade que se possa ter. Sábios são os que se submetem com humildade, que respeitam e reverenciam sua força. Tolos os que pensam que têm todo controle dentro de uma floresta, um oceano ou céu. Estar de espírito aberto, presente e conectado com alguma forma de Natureza é um êxtase sem palavras. Olhar no olho de um animal selvagem, uma experiência muito emocionante. Como se fosse um espelho reluzente que nos refletisse por dentro, do avesso.

Por acreditar que o espírito humano seja algo tão imenso quanto incompreensível esse filme mexeu comigo. Isso é muito precioso, talvez seja essa a mesma razão que nos faça negar, temer e nos fascine tanto...





"Há um tal prazer nos bosques inexplorados,
Há uma tal beleza na solitária praia,
Há uma sociedade que ninguém invade
Perto do mar profundo e da música do seu bramir
Não que ame menos o homem
Mas amo mais a Natureza"

Lord Byron




P.S: Dedico aos espaços vazios dentro de cada um

sábado, 10 de outubro de 2009

Quem você quer ser?




No mundo em que vivemos existem três tipos de pessoas: Primeiro os comparáveis a um papagaio, segundo os comparáveis a urubus e terceiro os que são comparáveis a águia.
Papagaio: São aqueles que recebem tudo na boca, vivem de papo no ombro dos seus senhores, juram que mudaram de vida e não mudam porra nenhuma. Urubus: Aqueles que vivem das sobras. Passam a vida cercando tudo que é podre e morrem contentes com isso. Nesses dois grupos estão a maioria da humanidade. O terceiro grupo, o da minoria, é o da águia. A águia costuma voar muito alto. Diferente do urubu que se contenta com a carniça e a carcaça alheia, ela que escolhe o que vai comer. Ao avistar uma tempestade, ela se mantém acima da mesma, tornando-se assim imune. Até mesmo para morrer ela procura o lugar mais alto. Agora perguntem-se: O que EU quero? Viver só de papo, como um papagaio, viver de sobras como um urubu, ou ter uma existência majestosa quinem a da águia, para por fim terminar a existência da maneira mas gloriosa possível? Eu opto pela da águia, e vocês?

sábado, 12 de setembro de 2009

Yvymarã Ei - "Releitura do Éxodo 3: enquanto vejo Tupiniquins e Guranis sendo mortos pela Aracruz Celulose"






Muito tempo depois morreu o Imperador do Mal, e os Filhos do Sol, gemendo sob o peso da escravidão e da extinção, clamavam, e do fundo da escravidão e da extinção o seu clamor subiu até Tupã. E Tupã ouviu os seus lamentos e gemidos; Tupã lembrou-se do dia em que dançou com os grandes caciques, com os grandes pajés, com os grandes xamãs com os grandes anciãos. Tupã viu o os Filhos do Sol e os conheceu e se compadeceu.

Eis que caçava e pescava Galdino, Pataxó Hã-Hã-Hãe, as margens do Araguaia, próximo aos Karajás, num território que já não pertencia a ele, nem aos seus semelhantes, muito menos aos seus antepassados e isso aumentava ainda mais o sofrimento que trazia em sua alma. E Tupã lhe apareceu no meio dos toros. Os toros originaram o Quarup. E os toros dançavam, como se estivessem vivos e estavam. E os toros dançavam ao som do canto dos pássaros da floresta, ao som de tambores que Galdino nunca tinha ouvido antes. E Galdino disse: "Darei uma volta e verei este fenômeno estranho, verei por que os toros dançam, como se vivos estivessem, como se guerreiros fossem".

E Tupã viu que Galdino deu uma volta para ele ver. E Tupã o chamou: "Galdino, Pataxó Hã-Hã-Hãe".

Galdino respondeu: "Eis-me aqui".

Tupã disse: "Eis a Criação! Dance! Dance para te aproximar. Eis a Pacha Mama e teus antepassados, eis a Grande Gaia! Eu sou Tupã! Eu sou Tupã!"

E Galdino dançou, e ouviu os cantos dos pássaros e dos tambores. E dançou ao redor dos toros onde estava Tupã.

E disse Tupã: "Eu vi, eu vi a miséria do meu povo que está nesta terra continental. Ouvi o seu clamor, o seu lamento por causa dos opressores; pois eu conheço as suas angústias. Por isso desci a fim de liberta-lo da mão do Mal, e para faze-lo subir desta terra a uma terra boa e vasta, terra onde se pesca e caça, onde se planta e colhe, terra onde não existe a morte, onde não há extinção, terra em que não há exclusão. Agora o clamor dos Filhos do Sol chegou até a mim, e também sinto a opressão com que o Mal está oprimindo. Vai, agora, pois eu te enviarei para subir desta terra e ir para o lugar que se chamaYvy marã ei, onde dançaremos a feliz dança da vida".

Então Galdino disse a Tupã: "Como farei sair os Filhos do Sol para a terra sem males?"

"Eu estarei contigo", disse Tupã. E disse ainda: "Vai, reúne os caciques e anciãos e diga-lhes: "Tupã, o Deus de nossos pais, de nossas mães, me apareceu dizendo: "Subirão todos para Yvy marã ei, e dançaremos a dança da vida".

Mas disse Galdino: "Não nos deixarão sair. Seremos assassinados... Destruirão nossa cultura. Nos queimarão vivos enquanto dormimos!"

E disse Tupã: "Estenderei minha mão e ferirei aquele que se diz poderoso. Neste dia a onça pintada não sairá para caçar, o jacaré não entrará no rio, as piranhas não se alimentarão, os pássaros não irão voar nem cantarão, pois Tupã ferirá a casa d'Aquele que se diz poderoso. Se ouvirá em toda a floresta, vale ou campina, na praia ou sertão, o som da guerra em favor do meu povo. E quando todo o povo indígena partir, uma vida nova estará nascendo por essa nova estrada em que caminham os meus guerreiros, as minhas guerreiras.

Eis a terra que lhes dou: Yvy marã ei!"

E Galdino saiu da presença de Tupã com seu espírito fortalecido. Sentira agora, coisas que o sofrimento apagara de seu coração guerreiro. Correndo pela floresta fez a experiência plena na certeza da vitória, pois Tupã desceu e se fez indígena no meio do seu povo.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Algonquins - Como foi dado o Milho aos Índios

Um jovem de catorze ou quinze anos morava com os seus pais, irmãos e irmãs numa pequena e muito bem situada tenda. A família, embora pobre, era muito feliz em bem disposta. O pai era um caçador a que não faltava coragem e habilidade, mas havia alturas em que mal conseguia sustentar a família. Visto seus filhos nenhum Ter idade suficiente para o ajudar, por vezes as coisas tornavam-se difíceis. O rapaz era uma criança feliz e bem disposta, tal como o seu pai, sendo o seu maior desejo o de ajudar o seu povo. Tinha chegado a altura de abstinência, obrigatória para todos os rapazes índios da sua idade. A sua mãe construiu-lhe uma tenda, preparada para tal, num local remoto, onde ninguém o pudesse incomodar durante a sua provação.

Lá, o rapaz meditou sobre a bondade do Grande Espirito que tornou as florestas e os campos bonitos para o prazer do homem. O desejo de ajudar os outros estava nele fortemente implantado e rezou para que lhe fosse revelado, em sonho, a maneira de o fazer.

Ao terceiro dia de jejum, quando estava já demasiado fraco para se poder passear pela floresta e, deitado, se sentia entre o sono e a vigília, um belo jovem veio até ele, ricamente vestidos com mantos verdes e bonitas plumas da mesma cor na cabeça.

"O Grande Espirito ouviu as tuas preces", disse o rapaz como a voz soou como o vento passando por entre a erva. "Escuta-me atentamente e o teu desejo será concretizado. Levanta-te e luta comigo."

O rapaz obedeceu. Embora os seus membros estivessem fracos, o seu cérebro estava lúcido e ativo e ele pensou que não poderia fazer outra coisa senão obedecer aquele estranho de voz suave. Depois de uma longa e silenciosa luta o belo jovem disse:

"Já chega por hoje. Amanhã estarei de volta"

O rapaz estendeu-se no chão, estoirado, mas, no dia seguinte, o estranho de verde reapareceu e o conflito foi retomado. À medida que a luta continuava, o jovem sentia-se cada vez mais forte e confiante. Antes de o deixar pela Segunda vez, o visitante sobrenatural dirigiu-lhe algumas palavras de elogio e coragem.

No terceiro dia, o rapaz, pálido e fraco, foi de novo chamado para combater. Ao agarrar o seu adversário, o próprio contato parecia conferir-lhe nova força, o que o fez com que continuasse a lutar com mais bravura, até que seu companheiro foi forçado a gritar que já bastava. Antes de partir, porém, o belo jovem disse que no dia seguinte poria fim as suas provocações.

"Amanhã o teu pai vai trazer-lhe alimento, o que te ajudará", disse. "Á noite, noite voltarei para lutar contigo. Sei que estás destinado a ganhar e a obter o teu desejo. Quando me tiveres derrubado, despe-me dos mantos e das plumas e enterra-me no local onde eu cair, nunca esquecendo de manter a terra que me tapa úmida e limpa. Uma vez por mês certifica-te de que os meus restos mortais não cobertos são terra nova. E ver-me-ás de novo, vestido com os meus mantos verdes e com as minhas plumas." Dizendo isto desapareceu.

No dia seguinte, o pai do rapaz levou-lhe comida; mas o jovem suplicou-lhe que a comida fosse guardada até a noite. Mais uma vez o estranho apareceu. Embora não tivesse comido nada, a força do herói, como antes, parecia aumentar à medida que a luta ia se desenrolando até que, por fim, derrubou o seu adversário. Depois, despiu-o dos seu mantos e plumas e enterrou-o, não sem sentir pena de Ter matado um tão belo jovem.

Estando a sua missão cumprida, voltou para junto de seus pais e depressa recuperou toda sua força, nunca esquecendo, porém, a sepultura do seu amigo. Nem uma erva sequer conseguia lá crescer e, finalmente, ele foi recompensado. As plumas verdes começaram a aparecer ao cimo da terra, transformando-se em graciosas folhas. Quando o outono chegou, ele pediu ao pai que o acompanhasse ao local. Por essa altura, a planta já estava no seu auge, alta e bela, com folhas esvoaçantes e bolas douradas. O seu pai ficou surpreso a admirado.

"É o meu amigo, - murmurou o rapaz - o amigo dos meus sonhos." "É Mon-da-Min,, - disse o seu pai - o grão do espírito, a dádiva do grande espírito."

E foi desta forma que o milho foi concedido aos índios.

Retirado do livro; Mitologia Norte Americana - Lewis Spence

Editorial estampa / Circulo de Editores - Lisboa

domingo, 26 de abril de 2009

O 25 de Abril

O 25 de Abril foi ontem, por isso hoje vou escrever sobre esse dia.

O 25 de Abril é um bonito feriado. Como todos sabemos, o a 25 de Abril festeja-se a implantaçao da República em Itália. Foi a 25 de Abril de 1945 que Benito Mussolini, também conhecido por "Dux", foi pendurado pelos pés com um gancho de talho numa praça de Milao ou noutra, ele mais a sua noiva. É por isso que todos festejamos, porque Benito, ou o "Dux", era um maldoso ditador.
Infelizmente há ainda quem lhe siga o exemplo, mas todos sabemos também que nunca nenhuma ideologia morreu para sempre. E claro que já toda a gente adivinhou a quem me refiro: aos dirigentes estudantis. Nem eles tentam esconder a sua preferencia pelo seu ídolo, ao tentar imitar-lhe todos os tiques, desde a posse arrogante, tanto quando humilham outros estudantes como quando berram com as suas vozes de puberdade que nao pagam (como se tivessem dinheiro para pagar eles próprios, nem que quisessem...), chegando ao ponto de se autodenominarem "Dux"!
Bem, e com isto acho que ficou tudo dito. Esperemos que um dia haja um novo 25 de Abril na educaçao Portuguesa, e novos amanhas cantarao...

segunda-feira, 23 de março de 2009

Principio Sagrado do Ritmo


Há muito tempo o ritmo faz parte das curas e rituais religiosos. No passado, algumas marcações mais específicas vinham associadas a doutrinas, experiências sobrenaturais e alterações psicológicas. Os instrumentos de percussão servem para despertar a emoção e a conscientização interior. As práticas xamanistas usam o tambor para alterar o estado de consciência e levar ao transe espiritual. Os fieis se concentram no ritmo e acompanham a batida como se fizessem uma viagem mítica interior, buscando alcançar níveis de consciência que em geral são inacessíveis. No xamanismo, o tambor estabelece um tipo de ponte que leva o xamã a entrar em contato com um estado mágico de consciência.
Na prática do curandeirismo, o ritmo (seja o de tambores, chocalhos, sinos ou gongos) pode energizar ou estimular as energias primitivas do homem. Ativam o baço e os chakras básicos do corpo, usando principalmente os instrumentos de percussão. Esses centros estão ligados às funções do sistema circulatório, às glândulas supra-renais e às forças essenciais da vida, que são os centros da sexualidade - expressão física da dinâmica vitalidade espiritual.
O voduísmo (religião do Haiti) não procura disfarçar ou encobrir o uso de tambores no estímulo de determinadas energias. Seus rituais são usados para bloquear a mente racional, ativar a energia sexual e induzir ao transe. A batida incessante do tambor leva a uma ressonância forçada com a energia.
Os ritmos estimulam a energia física. A percussão pode ser um meio de aumentar o fluxo sanguíneo do corpo, acelerar ou diminuir o batimento cardíaco e afetar os órgãos ligados ao coração. portanto, seria impossível pensar num antigo xamã, curandeiro ou feiticeiro sem um tambor ou qualquer outro instrumento de percussão. dependendo do sincopado, marcações ou pausas rítmicas, conseguiam atingir certos estados psicológicos. Nas lendas xamanistas os tambores são usados para estabelecer sintonia entre a audiência e a freqüência energética da história.
O chocalho, como o tambor, faz parte da família de percussão e é um dos mais antigos instrumentos de curandeirismo.
Infelizmente seu poder curativo é quase sempre ignorado, sendo usado somente pelos interessados no xamanismo ou nas feitiçarias indígenas. Em relação à cura, ele tem uma versatilidade que outros instrumentos não têm. Além de, por seu tamanho ser ´fácil de transportar.
As marcações do chocalho têm a capacidade de ligar a consciência ativa à energia cósmica ou a níveis mais profundos de consciência. Os níveis externos de consciência servem para liberar energia e poder no processo de cura e purificação. o chocalho é um instrumento purificador.
Somos um sistema energético bioquímico/eletromagnético. Nossos pensamentos e emoções levam a várias freqüências de estímulos eletromagnéticos que interagem com os bioquímicos.
Pensamentos e emoções negativas estabelecem padrões rígidos de energia dentro dos campos da aura (assemelham-se a imagens congeladas na televisão com pouca difusão. Esses padrões são desvios de nossa verdadeira freqüência energética.
O corpo etérico é filtro do físico, e os chakras mediam todas as energias que fluem para dentro e para fora do organismo. É fundamental manter esses filtros limpos. Diariamente entramos em contato com uma quantidade enorme de resíduos energéticos que, sintonizados com nossa própria energia, alojam-se ali. O processo é o mesmo das torneiras que acumulam minerais e sedimentos em seus canos, impedindo a água de fluir livremente. o mesmo acontece com nossa aura, que pode ficar obstruída por excesso de refugos energéticos. O chocalho é um instrumento rítmico que libera qualquer resíduo alojado nos filtros e canais naturais do corpo. Ele desprende energia negativa, para que o sistema energético, físico e sutil sejam purificados.
A técnica é simples. Agita-se o chocalho em volta do corpo todo. Seu compasso servirá para desprender energia estocada e acumulada no corpo etéreo. Então passa-se a agitá-lo de cima para baixo, da cabeça aos pés, seguindo o meridiano central, tanto pela frente do corpo como pelas costas. esse processo libera os resíduos acumulados ao redor e dentro dos chakras. Alguns curandeiros fazem um tratamento extra agitando-o em cada chakra, pois são os lugares onde existe um grau mais intenso de atividade eletromagnética, com maior propensão a acumular resíduos energéticos.
O chocalho é usado de muitas formas, dependendo da tradição religiosa e da doença. Apesar de suas inúmeras variações, existem algumas regras universais comuns que devem ser seguidas.
O instrumento precisa circundar todo o corpo, para ajudar a desprender as energias negativas alojadas no corpo etérico.
Depois, agitando o chocalho, percorre-se o corpo de cima a baixo para desprender a energia alojada nos chakras. Assim o praticante - por intermédio de outros meios - consegue purificá-los.
Extraido de um texto do músico e autor Ted Andrews - livro Sons Sagrados - Mandarim

sábado, 14 de março de 2009

Curupira - O Mito Brasileiro


Esse é um pequeno texto no qual é feito uma analise sobre o mito mais conhecido do folclore brasileiro. Visto por alguns como um ser fantastico protetor da nossa fauna e flora e por outros como um demonio devorador da carne humana. O Curupira povoa o imaginario popular causando medo e curiosidade.
Como toda figura do imaginário, também o Curupira não possui uma origem completamente exata, sabe-se que já no século XVI, o garoto de cabelos vermelhos e pés para trás, já era conhecido como protetor das matas contra todos aqueles que pretendiam depredar fauna e flora. Originalmente, a palavra Curupira vem da língua Tupi e significa Diabo.
Entre os indígenas o Diabo, ainda não possuía a conotação cristã, portanto, a palavra diabo significava um ente fantástico, um espírito arredio que nesse caso, protegia as matas. Na civilização grega, os demônios são seres divinos ou semelhantes aos deuses devido a um determinado poder. Posteriormente, a palavra passou a designar os espíritos inferiores e, por fim, os espíritos maus.
Na demonologia cristã, os demônios são anjos que traíram a própria natureza, mas que não são maus nem na origem e nem na sua natureza, pois se fossem naturalmente maus não teriam nascido do Bem e nem teriam se separado dos anjos bons, de modo que se houve uma separação é por que sua origem é boa.
O Curupira de pele escura, dentes verdes, corpo coberto por pelos é um gênio da floresta que além de despistar a todos devido aos seus pés estarem as avessas, ainda produz silvos e sons que desnorteiam seus inimigos. Os ruídos misteriosos que vem da mata são por ele produzidos e se um caçador malvado encontrá-lo no caminho e se apenas o encontro não o matar, acabará enlouquecido devido a tanta traquinagem de Curupira. Quando imita gritos humanos, acaba fazendo com que as pessoas se percam na floresta.
Os seringueiros e os caçadores que só caçam para comer são por ele tolerados, mesmo assim, esses caçadores e trabalhadores costumam ofertar pinga e fumo ao Curupira para que este não os incomode com suas travessuras. O belo protetor das plantas e dos animais, quando percebe uma pessoa predadora usa de suas artimanhas para iludir tais como gritos, assobios, gemidos e devido a sua incrível rapidez, tal qual o vento, ele se esconde e é capaz de se fazer acreditar que esteja aqui e ali ao mesmo tempo. Às vezes, o caçador é levado a pensar que Curupira é um animal ou uma ave, só que ao ir atrás dele acaba irremediavelmente perdido na floresta. Ao se aproximar uma tempestade, velozmente, Curupira vai alcançando cada uma das árvores para verificar se estas estão firmes ou se correm o risco de queda, dessa maneira busca proteger os animais para que esses não fiquem próximos do que poderia ser sua tragédia. Não gosta de ser visto pelas pessoas, mas todos sabem que ele adora descansar sob os mangueirais, de modo que se você tiver a curiosidade em conhecê-lo e não tiver má intenção para com as plantas e animais selvagens, bem à tardinha, naquela horinha da preguiça gostosa, basta se colocar bem quietinho e escondido para avistá-lo ali. Se for criança deverá tomar cuidado, pois Curupira leva para si as crianças e após sete anos de ensinamentos, as devolve para seus legítimos pais que se encantam com o respeito e sabedoria com que agora lidam com a natureza.
Os índios costumam contar uma interessante história que ilustra o comportamento de Curupira, sua honestidade e coerência diante de suas convicções; sua inocência, o que é diferente de ingenuidade, esta é um descuido em relação à voz dos instintos, enquanto que aquela é a leveza de não ser culpado e de nem se quer buscar a culpa nos outros contra a "esperteza", aquele desejo de poder que busca tirar vantagem e que é o adubo de toda corrupção. Esta é a história: Estava o Curupira andando pela floresta, quando encontrou um índio caçador que dormia profundamente. Como estava com muita fome, cismou em comer o coração do homem. Assim, fez com que ele acordasse. O caçador levou um susto, mas como ele era muito controlado, fingiu que não estava com medo. O Curupira disse-lhe:

- Quero um pedaço de seu coração! O Caçador, que era muito esperto, lembrando-se que havia atirado num macaco, entregou ao Curupira um pedaço do coração do macaco.

O Curupira provou, gostou e quis comer tudo.

- Quero mais! Quero o resto! - pediu ele.

O Caçador entregou-lhe o que havia sobrado, mas, em troca, exigiu um pedaço do coração do Curupira.

- Fiz sua vontade, não fiz? Agora você deve dar-me em pagamento um pedaço de seu coração, disse ele.

O Curupira não era muito esperto e acreditou que o Caçador havia arrancado o próprio coração, sem ter sofrido nenhuma dor e sem haver morrido.

- Está certo, respondeu o Curupira, empreste-me sua faca. O Caçador entregou-lhe a faca e afastou-se o mais que pôde, temendo levar uma facada. O Curupira, porém, estava sendo sincero. Enterrou a faca no próprio peito e tombou, sem vida.

O Caçador não esperou mais, disparou pela floresta com tal velocidade que deixaria para trás os bichos mais velozes... Quando chegou à aldeia, estava com a língua de fora e prometeu a si mesmo não voltar nunca mais à floresta. Pensou:

"Desta escapei. Noutra é que não caio"

Durante um ano, o índio não quis saber de entrar na mata. Quando lhe perguntavam por que não saía mais da aldeia, ele se desculpava, dizendo estar doente. O Caçador tinha uma filha que era muito vaidosa. Como haveria uma festa dentro de poucos dias, ela pediu ao pai um colar diferente de todos os que ela já tinha visto. O índio, pai dedicado, começou a pensar num modo de satisfazer o desejo da filha. Lembrou-se, então, dos dentes verdes do Curupira. Daria um bonito colar, sem dúvida. Partiu para a floresta e procurou o lugar onde o gênio havia morrido. Depois de algumas voltas, deu com o esqueleto meio encoberto pelo mato. Os dentes verdes brilhavam ao sol, parecendo esmeraldas. Conseguindo vencer o receio, apanhou o crânio do Curupira e começou a bater com ele no tronco de uma árvore, para que se despedaçasse e soltasse os dentes. Imagine a sua surpresa quando, de repente, viu o Curupira voltar à vida! Ali estava ele, exatamente como antes, parecendo que nada havia acontecido! Por sorte, o Curupira acreditou que o Caçador o ressuscitara de propósito e ficou todo contente:

- Muito obrigado!

Você devolveu-me a vida e não sei como lhe agradecer!

O índio percebeu que estava salvo e respondeu que o Curupira não tinha nada que agradecer, mas ele insistia em demonstrar sua gratidão. Pensou um pouco e disse:

- Tome este arco e esta flecha. São mágicos.

Basta que você olhe para a ave ou animal que deseja caçar e atire. A flecha não errará o alvo. Nunca mais lhe faltará caça. Mas, agora, ouça bem: jamais aponte para uma ave ou animal que esteja em bando, pois você seria atacado e despedaçado pelos companheiros dele. Entendeu? O índio disse que sim e desde aquele momento não mais lhe faltou caça. Era só atirar a flecha e zás! O bicho caía. Tornou-se o maior caçador de sua tribo. Por onde passava, era olhado com respeito e admiração. Um dia, ele estava caçando com outros companheiros que não tinham mais palavras para elogiá-lo. O índio sentiu-se tão importante que, ao ver um bando de pássaros que se aproximava, esqueceu-se da recomendação do Curupira e atirou... Matou somente um pássaro e, como o Curupira avisara, foi atacado pelo bando enlouquecido pela perda do companheiro. De seus amigos, não ficou um: dispararam pela floresta, deixando-o entregue à própria sorte. O pobre índio foi estraçalhado pelos pássaros. A cabeça estava num lugar, um braço no outro, uma perna aqui, outra longe... O Curupira ficou com pena dele. Arranjou cera e acendeu um fogo para derretê-la. Depois recolheu os pedaços do Caçador e colou-os com a cera. O índio voltou à vida e levantou-se:

- Muito obrigado! Não sei como lhe agradecer!

- Não tem o que agradecer, respondeu o Curupira, mas preste atenção. Esta foi a primeira e ú1tima vez que pude salvá-lo! Não beba, nem coma nada que esteja quente! Se o fizer, a cera se derreterá e você também! Durante muito tempo, o índio levou uma vida normal. Ninguém sabia do acontecido. Um dia, porém, sua mulher lhe serviu uma comida quente e apetitosa, tão apetitosa que o índio nem se lembrou que a cera poderia derreter-se. Engoliu a comida e pronto! Não só a cera se derreteu, mas também o próprio índio.

(1) Essa história guarda em si mesma, vários aspectos de Curupira que se aproximam dos deuses da vegetação, como por exemplo, Dioniso que também fora desmembrado e depois juntado, significando que é uma entidade consagrada e iniciada nos mistérios. Por outro lado, Curupira tem o mesmo poder para com os homens, desmembrar e juntar, devolvendo-lhes a energia vital. É um deus da vegetação com o poder da caça e do rejuvenescimento. Curupira possui os pés para trás e os calcanhares para frente, de modo que suas pegadas ficam na direção oposta da qual realmente veio. Enquanto as pernas criam os laços sociais por que são elas que nos levam aqui e ali, os pés simbolizam o senhor e a chave dos laços sociais por que eles estão diretamente ligados ao chão, ao princípio de realidade e de concretude.
Os pés para trás representa uma habilidade maliciosa em se esquivar para em seguida, fazer sucumbir o inimigo das matas. Curupira possui dentes verdes, como se fossem esmeraldas.
Os dentes simbolizam a energia vital, uma força agressiva de defesa que abre caminho, bem como representam a assimilação do alimento, ou, do conhecimento que nutre.
O verde situado entre o amarelo e o azul é o mediador entre o calor e o frio, entre o alto e o baixo. Significa a força nutridora da natureza, sua capacidade de regeneração e de sua refrescância. A pedra de esmeralda é símbolo de fertilidade e de poder regenerador para muitos povos indígenas. Para os alquimistas era a pedra de Hermes ou Mercúrio. Hermes que também usou o artifício de fazer pegadas as avessas para escapar de represálias e para enganar. Na tradição hermética se afirma que durante a queda de Lúcifer, uma esmeralda tombara de sua fronte. Assim, a esmeralda ressalta a simbologia de ser essa pedra a representante do pensamento que ilumina ao mesmo tempo em que está impregnado dos mistérios e dos sentidos. Ela também é a pedra do Papa na religião cristã, assim como, anteriormente, representava a religião do paganismo como símbolo de primavera, vida manifestada e evolução de pujança verde da força natural. Onde expressava a periódica renovação da natureza e das forças ctônicas da terra, daí também ser referida como originária do inferno, embora hoje seja uma das representações do poder papal. Esse fato, a princípio tão incongruente, se explica devido ao sincretismo que se fez entre as religiões. Esse mesmo sincretismo explica também que ora se diz que Curupira é um deus e ora se diz que Curupira é um demônio. Pois, no paganismo o demônio era um ente chamado de deus por possuir poder semelhante a um deus. Já na religião cristã, ocorreu uma separação entre bem e mau, dessa dicotomia, o demônio passou a representar a carne, os sentidos, o feminino e, portanto, o pecado. Sendo os dentes de Curupira verdes feito esmeraldas, temos aí uma clara simbologia de que esse ente das matas é um demônio ou um deus de grande poder sobre a própria vida.
Em Curupira ocorre a assimilação e a defesa do conhecimento racional e dos sentidos quanto ao conjunto da natureza. Curupira é o nosso deus ecológico de evidente influência pagã. O fantástico Curupira possui cabelos vermelhos. O desencadear da vida parte do sangue, do útero, das paixões, ou simplesmente, do vermelho e desabrocha no verde. O vermelho é considerado como símbolo fundamental do princípio de vida. É a cor da força, do poder e do brilho do fogo e do sangue. Já a simbologia dos cabelos significa como que a síntese da personalidade de um indivíduo, daí o costume de se guardar mechas de cabelos para resguardar a pessoa de um mau destino. Os cabelos também representam a força e a virilidade como se vê no mito de Sansão. O fato de Curupira ter os cabelos vermelhos significa que ele concentra em si mesmo o poder e a virilidade das matas e dos animais selvagens, bem como sua força de vida e restauração. Assim é que o nosso Curupira representa o conjunto de conhecimento, de adaptabilidade e do grande poder de regeneração e de criação da natureza. Fonte consultada:


(1) – Texto extraído do livro Histórias e lendas do Brasil (adaptado do texto original de Gonçalves Ribeiro).Ilustrações de J. Lanzellotti - São Paulo – APEL Editora, sem data - SP. Cascudo, Luis da Câmara – Lendas Brasileiras – Ilustrações de Poty – 2ª. Edição – Ediouro – RJ. – 2.000.


Chevalier, Jean e Gheerbrant, Alain – Dicionário de Símbolos – 2ª. Edição – José Olympio Editora – Rio de Janeiro – 1989.


Cunha, Antonio G. da – Dicionário Histórico das Palavras Portuguesas de Origem Tupi – Prefácio-Estudo de Antonio Houaiss - 5ª. Edição -São Paulo – Companhia Melhoramentos – Brasília: Universidade de Brasília, 1999.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

A Arte Rupestre e Comunicação em Magia na Pré-Historia Brasileira



Por Paulo Seda
UERJ/Dept. de História/Programa de Estudos da Pré-História
Brasileira
Instituto de Arqueologia Brasileira
A arte rupestre pinturas, gravações e esculturas em rochas fixas é o gênero, ou exemplo, mais típico e universal de arte pré-histórica, embora também esteja presente em algumas sociedades históricas, inclusive entre populações atuais.
A arte rupestre brasileira é uma das mais expressivas e numerosas em todo o mundo, reconhecida internacionalmente por sua beleza e riqueza de informações, já sendo feita pelo menos 10.000 anos antes do “descobrimento”.
Nossa história da arte não pode desconhecer este patrimônio. A importância e significado da arte rupestre para o entendimento do desenvolvimento da humanidade, são inegáveis, pois estamos diante de um marco fundamental: pela primeira vez o homem preocupase em registrar e perpetuar uma idéia. Tal fato representa um vestígio de evolução mental sem precedentes, o nascimento da arte rupestre significa, poderíamos dizer, o início de um processo de desenvolvimento mental que chegaria até nossos dias.
Animais são, sem dúvida, um dos temas mais recorrentes na arte rupestre em todo o mundo, inclusive Brasil, ultrapassando barreiras geográficas e temporais.
Uma simples consulta às representações de animais permite visualizar toda a história da sua relação com os homens. Ao mesmo tempo, as representações de animais são uma importante fonte de informações sobre a fauna primitiva, variando de lugar para lugar e de época para época, demonstrando uma variedade de representações, de acordo com a fauna da região, desde animais extintos até a fauna atual. Em primeira instância, portanto, o que estes zoomorfos fornecem são informações sobre a fauna contemporânea dos artistas.
No Brasil, embora praticamente toda a fauna esteja representada, os cervídeos, os tatus e os roedores são sem dúvida os animais mais retratados, embora em alguns sítios ou regiões certos animais, não tão comuns, pareçam assumir uma maior importância e mesmo predomínio como, por exemplo, as representações de lagartos em certas regiões do norte de Minas Gerais ou a Lapa Santa Clara em Unaí, Minas Gerais, onde as aves são o único animal representado (PROUS, LANNA e DE PAULA, 1980 e SEDA, 1982).
Imagens celestes, ou representações astronômicas, figuras classificadas como luas, “sóis”, etc., também não são muito raras na arte rupestre brasileira, embora boa parte das vezes costumem deixar muitas dúvidas na sua identificação: chamamos de sol ou lua aquilo que possui, mais ou menos, a forma (ou as formas) que convencionamos ser a do sol ou da lua. Contudo o interesse das populações préhistóricas pelos astros, bem como por representalos, é inegável. Além disto, diversas marcas ou desenhos (não necessariamente de astros) vêm sendo associados a “sistemas de notação do tempo”, onde estão implícitas observações celestes.
Ao contrário do que nos acostumamos a pensar, representações geométricas não são a expressão mais antiga, ao contrário, elas são uma evolução, uma “simplificação, em termos de forma, da expressão “figurativarealista”.
Acostumamonos a pensar assim, por uma visão extremamente etnocêntrica, que concebe os pré-históricos mais antigos como incapazes de representar figuras muito elaboradas e que por isso fariam apenas alguns círculos, traços, etc. Ora, esta visão é totalmente errada, a evolução se faz justamente ao contrário: a “geometrização”, por exemplo, dos antropomorfos e sáurios em Varzelândia, Minas Gerais, até se tornarem figuras em “X” e “?“ com “=” são um exemplo disto, ou seja, aquilo que o homem para representar precisava traçar diversas linhas, ele agora precisa de dois ou três traços (SEDA, 1997). Tratase, portanto, não de uma evolução simplesmente técnica, mas sobretudo de uma
evolução mental: simplificar ao máximo aquilo que se quer representar, portanto simbolizando, significa um avanço sem precedentes.
Um exemplo da arte contemporânea serve para ilustrar nosso pensamento, observando-se os estudos de Picasso sobre o desenho de um touro para compor um litografia. Decorrem onze etapas, ou desenhos, até Picasso chegar ao touro pretendido, o que leva PARMELIN (1981: 3233)
a comentar: “...é impressionante vermos que o primeiro era um touro soberbo. Bem roliço, muito próximo do real e este vai se decompondo até que no décimo primeiro só restavam algumas linhas. Jean Celestin, litógrafo que trabalhava com Picasso comenta: ‘Vai diminuindo, diminuindo de peso’. Henri Deschamps me disse que Picasso estava tirando ao em vez de pôr. Ao mesmo tempo que ele ia decompondo o touro. ...Ele suprimia, suprimia. Pensei no primeiro touro, e disse comigo: é curioso, ele terminou por onde normalmente deveria começar. Mas Picasso procurava o seu touro. E para chegar ao touro de um único traço passou por todos aqueles outros touros. E quando se vê esse traço único não se pode imaginar o trabalho que o artista teve”.
O exemplo do processo de Picasso para chegar ao touro é magnífico, pois “cada etapa tem sua carga de realidade, e cada realidade busca uma nova verdade. E a versão definitiva leva em si a imagem que nos vem à mente quando dizemos a palavra touro” (op.cit.).
Portanto, se os caminhos da pesquisa e da abordagem em arte rupestre são múltiplos, qualquer que seja este caminho devemos ter em mente que “aquilo que se produziu é antes o desenvolvimento extremamente lento (mais de 10.000 anos) dos esforços de tradução manual de um conteúdo verbal já dominado”(LEROIGHOURAN, 1987: 188).
A arte rupestre é portanto uma forma de comunicação, ou, como observa MORIN (1979: 105106), não é ainda a linguagem escrita, mas já é a linguagem do escrito.
A representação desta forma de comunicação, os desenhos, surge, entre outras coisas, da observação da própria natureza: pintar, ou gravar, animais, plantas, astros, fenômenos celestes, etc., é, antes de mais nada, uma simples observação da natureza e isto nada tem de extraordinário. Restanos porém, aí a tarefa mais difícil, procurar entender que conhecimento ou utilidade advinha desta observação.
Morin (op. cit.: 105106) prossegue afirmando que “num certo sentido, a exibição gráfica constitui a aquisição de um novo modo de expressão e de comunicação, que é uma primeira escrita. Ainda não é, naturalmente, a linguagem escrita, mas já é a linguagem do escrito, com sinal ideográfico e o símbolo pictográfico”. Deste modo, tratase do surgimento de uma nova forma de comunicação e linguagem.
Por outro lado, LeroiGourhan (1987: 1989) observa que o surgimento dos símbolos gráficos pressupõe uma nova relação nos dois conjuntos operacionais dos antropídeos (mãosutensílio
e rostolinguagem): a visão passa a ocupar um lugar predominante nos conjuntos rostolinguagem
e mãografia, em relações exclusivamente humanas: “Portanto, podemos dizer que, se na técnica e na linguagem da totalidade dos antropídeos, a motricidade condiciona a expressão, na linguagem figurada dos antropídeos mais recentes, a reflexão determina o grafismo”.
Seria próprio do Homo sapiens, em seus rituais mágicos, dirigirse não somente aos seres dos quais pretende uma resposta, bem como às imagens ou símbolos que supostamente neles se localizam. A linguagem representaria o caminho da magia, pois toda e qualquer coisa traz instantaneamente ao espírito a palavra que a identifica; a palavra, por sua vez, traz imediatamente a imagem mental daquilo que ela evoca e torna presente, ainda que ausente (idem).
É possível então, tentarse compreender as condições de surgimento da magia: era necessário, inicialmente, que a linguagem e o grafismo mantivessem essa dupla existência dos seres e das coisas, era necessário também, um mito que confirmasse e explicasse a realidade viva das imagens, mentais e materiais; possivelmente fosse ainda necessário que a imagem representada constituísse um veículo material para a operação mágica: Assim, a comunicação é assegurada, entre a imagemobjeto e a coisa objetiva, com a magia podendo desenvolverse através da utilização das virtudes eficazes do ritual. Deste modo, as pinturas de Lascaux e de Altamira não foram ‘utilizadas’ por operações mágicas. Elas são um elemento constitutivo da magia.
Com isso, compreendemos melhor que, ainda que as imagens não possam reduzirse à sua função mágica, o universo das imagens desenvolvendose, contribui por si próprio para o desenvolvimento da magia (idem).
No Brasil, na região da Serra do Cabral, Minas Gerais, a existência na região de inúmeros sítios exclusivamente com arte rupestre (à exceção da Lapa Pintada III e da Lapa da Dança), nos permite admitir a possibilidade de uma finalidade cerimonial para os mesmos (SEDA, 1998). Na medida em que a arte e a subsistência não seriam aspectos antagônicos ou mesmo distintos, a Lapa Pintada III e a Lapa da Dança também teria uma finalidade cerimonial. Deve ficar claro também, que este tipo de interpretação não elimina o caráter de comunicação, de mensagem, das suas pinturas.
Evidentemente não podemos saber que tipo(s) de cerimônia(s) desenvolviam, podemos afirmar que as pinturas integrariam um sistema simbólico organizado, embora este ainda nos escape, em que as representações de animais tinham relevância e cujo encadeamento implica em uma estrutura de pensamento bastante complexa. Possivelmente, a exemplo da arte francocantábrica, as pinturas da Serra do Cabral, não sejam simplesmente representações de caça, mas exprimam as relações das funções metafísicas dos símbolos que lhes serviam de base, correspondendo ao arcabouço de uma mitologia (LEROIGOURHAN, 1984: 138), onde os cervídeos, ao que parece, teriam um lugar de destaque.
O fato da arte rupestre não ter se iniciado através de uma submissão ao real, mas ter se organizado a partir de sinais que, aparentemente, exprimem os rítmos e não as formas, permite induzir que a arte figurativa, na sua origem, ligavase à linguagem e encontravase muito mais próximo da escrita (em seu sentido lato) do que da obra de arte. O abstrato, tanto para o símbolo como para a linguagem, representa uma adaptação a solicitações cerebrais cada vez mais precisas. Desta forma, as figuras mais antigas conhecidas não representam cenas, são na verdade símbolos gráficos, sem uma ligação descritiva e que representavam um contexto oral irremediavelmente perdido.
O surgimento da arte representa, portanto, um acontecimento natural dentro da evolução física, mental e sensorial do Homo sapiens sapiens: nascendo da formação do conjunto intelectual linguagemgrafismo, significa a representação gráfica da magia da linguagem.
Desta forma, a mais longa evolução do Homo sapiens sapiens encaminhouse para formas de pensamento que tornaramse estranhas para nós.
Evidentemente, paralelo ao conjunto simbólico das imagens, existiu também, com toda a certeza, um contexto oral, através do qual o simbólico se coordenava e reproduzia os valores espacialmente. Tal forma de representação sobreviveu ao aparecimento da escrita, a qual influenciou consideravelmente onde a idéia sobrepujou à notação fonética.



LEROIGOURHAN,
André. Os caçadores da préhistória.
Lisboa: Edições 70,
1984.
LEROIGOURHAN,
André. O gesto e a palavra 2 Memória
e rítmos. Lisboa:
Edições 70, 1987.
MORIN, Edigard. O enigma do homem. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1979.
PARMELIN, Hélène. As metamorfoses de um touro. O Correio da UNESCO. Rio de
Janeiro: FGV, 2, ano 9: 3233,
1981.
PROUS, A.; LANNA, A.L.D. e DE PAULA, F.L. Estilística e cronologia na arte
rupestre de Minas Gerais. Pesquisas. São Leopoldo: Instituto Anchietano de
Pesquisas, 1980, nº 31, Série Antropologia, pág. 121146.
SEDA, Paulo. A arte rupestre de Unaí, Minas Gerais. Arquivos do Museu de
História Natural. Belo Horizonte: UFMG, 1982, v. 6/7, pág. 397403.
____________ Arte rupestre de Varzelândia (MG): cronologia e evolução. Anais
do VI Seminário Nacional de História da Ciência e da Tecnologia. Rio de Janeiro:
Sociedade Brasileira de História da Ciência, 1997, pág. 8795.
_____________ A caça e a arte: os caçadorespintores
da Serra do Cabral,
Minas Gerais. Tese de Doutorado em História Social. Rio de Janeiro: Instituto de
Filosofia e Ciências Sociais, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1998, il.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Os Cinco Sóis Astecas


O povo Asteca habitou a América Central e a região centro-sul do México há centenas de anos, antes da chegada dos europeus à América. Suas grandes cidades, pirâmides e templos podem ser vistos até hoje em algumas cidades da América Latina. Sua mitologia era rica em deuses e criaturas sobrenaturais. Além disso, os astecas (povo guerreiro e conquistador) incorporavam à sua religião divindades dos povos que conquistavam.

Os astecas eram politeístas e muitas de suas divindades estavam relacionadas com os elementos naturais: ÁGUA, TERRA, FOGO, VENTO, LUA... Os astecas eram um povo de camponeses e guerreiros e seus deuses refletem essa pluralidade.

Conta a mitologia asteca que outras civilizações existiram antes deles. Mas todas elas haviam sido destruídas por diferentes catástrofes naturais. Cada uma dessas gerações de homens era um SOL. A época do povo asteca era o Quinto Sol, ou seja, existiram quatro civilizações antes deles.

O Primeiro Sol foi a primeira civilização existente. Nessa época, viveram homens gigantes criados pelos deuses. Estes seres cultivavam a terra, moravam em cavernas e se alimentavam de raízes e frutos silvestres. Entretanto, foram atacados e devorados por jaguares. O símbolo desta era é uma cabeça de jaguar.

A destruição da era do Segundo Sol ocorreu através de fortes ventos. Os deuses transformaram os homens em macacos para que pudessem subir nas árvores e não fossem carregados pelos furacões de ventos. Essa foi a época do deus Quetzalcoatl, o deus do vento. O símbolo desta era é uma cabeça com um bico de pato de onde esse deus sopra o vento sobre os campos.

Uma chuva de lava pôs fim ao Terceiro Sol, período comandado pelo Deus do trovão e dos raios, Tatloc. Nessa época, os deuses transformaram os homens em aves para salvá-los.

O Quarto Sol foi a época da deusa Chalchiuhtlicue, esposa do deus Tlatoc, deusa dos mares, rios e lagos. A humanidade é destruída pela quarta vez, agora em decorrência de tempestades e chuvas torrenciais que inundaram toda a terra firme, cobrindo até o cume das montanhas mais altas. Os deuses, então, transformam os homens em peixes para salvá-los do dilúvio.

Segundo a lenda, quando a última catástrofe causada pela abundância de chuvas destruiu o Quarto Sol, os deuses se reuniram em Teotihuacan com a finalidade de criar um Novo Sol para dar vida à Terra. Para o nascimento do Quinto Sol era necessário sacrificar um deus. Dois deles se ofereceram para o sacrifício, um rico e poderoso e outro pobre e doente. Um dos deuses deveria se jogar na fogueira sagrada para que um novo sol fosse criado. No dia marcado, todos os deuses se posicionaram na borda do precipício onde estava o braseiro do grande fogo sagrado. Era a hora do sacrifício. O deus rico foi o primeiro que tentou lançar-se ao fogo, mas, covarde, não conseguiu se jogar. O deus pobre e doente, entretanto, não tendo nada a perder, fechou os olhos e saltou. Caiu bem no centro e levantou-se, então, uma chama enorme que o consumiu. O deus rico, arrependido, jogou-se na pequena fogueira que havia sobrado e também foi consumido. O deus pobre se converteu no Quinto Sol e o rico na Lua. Os demais deuses se transformaram nas estrelas que povoam o firmamento. O nascimento dos astros do Quinto Mundo foi desta forma representado pelos antigos astecas.

O Quinto e atual Sol está destinado a desaparecer num grande terremoto, depois do qual os monstros do oeste surgirão para matar todos os seres humanos.

sábado, 10 de janeiro de 2009

O ultimo "erro grave" de Israel


Três semanas já se passaram desde que Israel iniciou um ofensiva militar contra o Hamas na Faixa de Gaza. Nesta última quinta-feira, dia 15 de janeiro, o ministro da defesa de Israel, Ehud Barak, pediu desculpas ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, pelo "erro grave" cometido pelas forças de Israel. O tal "erro" de Israel foi ter atingido duas vezes as instalações da UNRWA (missão de assistência da ONU para os refugiados palestinos), onde se encontram mais de 700 refugiados, e ferindo três funcionários da ONU.

Trata-se de uma atitude estúpida, que demonstra o completo desrespeito do Estado de Israel para com as normas e organismos internacionais. Como se já não bastasse o fato das forças israelenses impedirem a movimentação dos veículos que transportam material e pessoal de ajuda humanitária pela Faixa de Gaza, agora atacam as instalações da própria ONU, ameaçando a vida de refugiados e funcionários internacionais inocentes.

Infelizmente, é quase certo que nada aconteça ao governo de Israel pelo seu trágico "erro". Não se deve esperar nenhuma sanção ou condenação internacional ao Estado de Israel. O mesmo não aconteceria caso tal erro tivesse sido cometido por qualquer outro país da região ou por uma entidade como o Hamas (que, ideologias à parte, até agora não atingiu ninguém além de seus próprios inimigos). Se fosse esse o caso, o governo (ou organização) responsável por tal ato receberia pesadas punições como sanções internacionais por parte da ONU e das principais potências, podendo até mesmo ser retaliado militarmente. Mas, como o responsável é Israel, nada disso irá acontecer. Tudo graças à proteção dos EUA.

Enquanto contar com o aval dos EUA para bombardear a esmo, atingindo civis inocentes e prejudicando o trabalho das missões humanitárias, violando várias normas internacionais, o governo de Israel não tomará precaução alguma com a sua "mira", e qualquer um que for pego no fogo cruzado será tratado apenas como "dano colateral". Enquanto esta inércia internacional em relação ao completo descuido das forças de Israel permanecer, nem mesmo a própria ONU estará segura na Faixa de Gaza (imagine então os civis palestinos).