quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Os Filhos de Hunab K´ u


Olá amigos;
Hoje vou postar duas orações em maia, uma para o dia e outra para a noite. É importante pronunciar as palavras no idioma maia (mântrico). Revivendo a cultura maia estará cumprindo as profecias e fará parte desse ciclo, dentro do qual se manifesta o divino, e se tornará filho de HUNAB K´U em sua memória universal.


ORAÇÃO A HUNAB K´U (PARA O DIA)


CUT IP´IL K´INE C´K´AMIC A THAN YUM
(Ao nascer o Sol recebemos tua palavra, Senho)

TUMEL YETEL U ZAZILE C´AHAL C´PATIC TU LACAL BAAL
(Porque com sua luz desertamos e contemplamos tudo)

C´ILICBA XANTUMEN A PALALOOB XAN
(Contemplamo-nos também porque somos teus filhos)

LEBETICO CU ZAAZTALE C´K´UBCA TECH
(Por sso, ao amanhecer, nos entregamos a ti)

TIAL CA CALANTON. YETEL TOONE CANZAH TECH MIATZIL
(Para que cides de nós e nos ensines tua sabedoria)

A UICH CU PACTICON CU YILCOOM. YUM
(É tu rosto que nos olha e nos contempla, Senhor)

LEBETIC C´K´UBICBA T TECH TAA YETEL YUM HUNAB K´U
(Por sso, nos entregamos a ti, pai e Senhor Hunab K´u)

YETEL TECH CU CU K´UBIC C´PALALOOB
(E te entregamos nossos filhos)

HEBXTU K´UBAHOON C´YUMOOB TI TECH
(Como nossos pais nos entregaram a ti)

YUM HUNAB K´U A UOHEL BAAX CA BETIC TETEL
(Senhor Hunab K´u, tu sabes o que fazes conosco)

TOONEC C´K´ATICTECH YUM HUNAB K´U CA A CANZAHOOB LE BEHO
(Nós te pedimos, Senhor Hunab K´u, que nos ensines o caminho)

ANTON YUM HUNAB K´U U TIAL CA ZUTNAG LE IN LAK´ECHO
(Ajuda-nos, Senhor Hunab K´u, para que retorne esse amor fraterno)

C´K´ATICTECH C´YUM HUNAB K´U TIAL MA ZATAL. OH! YUM HUNAB K ´U!
(Te pedimos, Senhor Doador de Movimento e Medida, para não nos perder. Oh! Senhor Hunab K´u)




ORAÇÃO A HUNAB K´U (PARA A NOITE)


DZU BULUL H´YUM K´IN, DZU TIP´IL X´YUM AK´AB
(Já se pôs o Senhor Sol e já chegou a Senhora Noite)

PEPENOBE CU LEMBALOOB ICHIL U LOL CAAN
(As mariposas brilham entre as flores do céu)

C´TUCULE TIAN TI TECHE C´HUNAB K´U
(Nosso pensamento está em ti, Deus)

TUMEN TECE C´AZAHOLAL, TA K´AB C´K´UBICBA
(Porque és nossa esperança, em tuas mãos nos entregamos)

TECH A UOHEL BAAX CA MENTIC T´ETEL HUNAB K´U
(Tu sabes o que fazes conosco, Hunab K´u)

AK´ABE HUAB K´U, A K´AB CUK´ALALA
(A noite, Hunab K´u, é tua mão que se fecha)

T´ICHILE CU YUCHIL TU LACAL
(E dentro dela tudo ocorre)

HEBIX U TPO´OL NEK´E, HEBIX U HOK´OL YALCHE U TIP´IL LOL
(Como brota a semente, como nasce e brta a flor)

BEYO HEBIX U ZIHIL LE WUINICE
(Assim nasce o Ser Humano)

BEL U YUCHUL TU LACL TU K´AB HUNAB K´U
(Assim tudo acontece nas mãos de Deus)

CALENTEN IN HUNAB K´U! CALENTEN!
(Cuida de mim doador do movimento e medida! Cuida e mim!)

TI TECH IN DZAMA IN WUINCLIL YETEL IN VOL
(A ti entrego meu corpo e meu espírito).

Fonte: "Segredos da Religião Ciência Maia", de Hunbatz Men. Trad: Silvia Branco Sarzana - São Paulo, Ground: 2001. Conheçam o site de Hunbatz Men, ancião da Tradição Itza Maya: http://www.themayas.com.mx

sábado, 25 de outubro de 2008

A Dança das Espirais


"As primeiras brisas frias anunciam o momento de recolher. O instante mágico dedicado ao silêncio, à recomposição energética que se apresenta como um convite ao repensar mais profundo diante da fogueira, é sagrado. O Grande Lagarto se estende sobre as pedras frias, confiante e solitário, a fim de que possa sonhar o amanhã desenhando no Cosmo o respirar de cada criatura.
A hora de firmar com o Intento as aspirações mais elevadas é sutil e reforça a busca de reconexão com Pachamama, a Mãe Terra, em cujos seios estarão deitadas as ações de seus filhos, todos os filhos. Ainda que caminhando cegamente, ausentes de direção, aprisionados a uma existência antropocêntrica destituída de percepções maiores e mais ousadas, esses filhos são também uma parte da Criação, uma modesta parcela que independente de tamanho ou grau de importância, mas que pulsa e está viva.
Ignorante da existência de outros seres e mergulhado em uma soberba absolutamente bizarra, o homem parece fadado à ilusão, distorcendo com habilidade e precisão impressionantes toda a natureza do movimento cósmico simplesmente por não conseguir perceber sua própria dimensão, tropeçando na própria sombra, esquecido da luz e do brilho que reside em todos as coisas vivas.
Mesmo assim, com a chegada das brisas frias e a necessidade de recolhimento tão próprias da estação, Pachamama é generosa e assinala, incansavelmente, o convite para que suas fragmentadas criaturas dancem com as próprias sombras, à luz do fogo, trazendo aos espíritos alembrança ancestral dos ritos do inverno, quando a Dança das Espirais é marcada pelo som dos tambores e orquestrada pelo movimento circular galáctico. Então, quando todos os filhos houverem experimentado a difícil descida aos mundos interiores, quando tiverem ouvido e libertado todos os ais alí depositados, poderão emergir gloriosos no movimento espiral em direção à Grande Luz.
Coloridas lanternas são acesas para que nenhuma alma se perca nesta "perigosíssima" trilha e para que a metamorfose se opere quando o milho fizer estourar no fogo pequenas nuvens, a fim de que os olhos não se esqueçam de mirar os céus e os espíritos aflitos não percam de vista o eterno respirar dos sonhos..."

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

No meio do Caminho (Tradução ao Tupi)

Um presente para todos aqueles que passarem por aqui...
Na página 133 de "Drummond: a Lição do Poeta" (Edição Comemorativa do Centenário do Nascimento de CDA), Teresina, Corisco, 2002, temos uma versão de "No meio do Caminho" em tupi (tradução de Gerobal Guimarães).

PYTÉRIPE PÉ

Pytéripé pé i tyb'amé oîepé itá
I tyb'amé oîepé itá pytéripé pé
I tyb'amé oîepé itá
Pytéripé pé i tyb'amé oîepé itá.
Aan xe sessaraine cuapabuera sui
ecobépe xe essápupé caneõgatu.
Aan xe sessaraine pytéripé pé
I tyb'amé oîepé itá
I tyb'amé oîepé itá pytéripé pé
Pytéripé pé i tyb'amé oîepé itá.



NO MEIO DO CAMINHO

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.

(In Alguma Poesia, Ed. Record)

domingo, 19 de outubro de 2008

Sobre a Independência Lakota e o direito indígena


Olá Amigos;
Hojé eu estava lendo um artigo do Tenente-Coronel Edvaldo Tavares, médico do Exército Brasileiro, sobre a independência dos índios Lakota nos EUA.
Achei o texto totalmente desonesto e alarmista.
No sentido de que os patriotas de plantão, em sua defesa por um Brasil íntegro em sua territorialidade, parecem ter esquecido quem são os verdadeiros donos das terras, que habitavam o Brasil, antes mesmo das ilusorias demarcações de fronteiras...
Enfim, fica ai parte do texto para analises proprias.

O povo indígena, por meio de seus representantes da tribo Sioux, também conhecida como Lakota, em 19 de dezembro de 2007, declarou independência em plena capital dos Estados Unidos, Washington, e passou a ser uma nação soberana. A partir desse momento deixaram de existir os acordos estabelecidos nos tratados de 1851 e 1868, que foram firmados no Fort Laramie, Wyoming entre a Nação Indígena Lakota ou Sioux e o Governo dos EEUU. A declaração foi aceita sem armas e derramamento de sangue, pacificamente. Nascia um novo país, a "República de Lakota", fincado no interior da nação soberana norte-americana, a potência econômica e bélica mais poderosa do mundo, intervencionista de acordo com os seus interesses.
A nova nação, independente, é formada pelas reservas indígenas dos estados de Dakota do Norte, Dakota do Sul, Nebraska, Wyoming e Montana, um território de 200.000 Km2 de extensão, maior do que dois Portugal (2 x 92.000 = 184.000 Km2) -- será que o Brasil já reconheceu e terá embaixada nesse recém-criado país?
Como há bem pouco tempo ocorreu, um casal de índios da Terra Indígena Raposa/Serra do Sol (TIRSS), Roraima, em peregrinação pela Europa, conseguiu levar, inclusive, o Papa no "papo", os representantes silvícolas do novo país enquistado no território dos Estados Unidos da América do Norte saíram em busca de apoio internacional. Bateram na porta da Venezuela, Chile, Bolívia, África do Sul e tudo indica que já gozam da simpatia da Irlanda, Timor-Leste e da Rússia -- Putin não perderia essa oportunidade -- para o reconhecimento da sua independência.
Na sua declaração, os Lakota afirmam que“Somos os Lakota das reservas índias Sioux de Nebraska, Dakota Norte, Dakota Sul e Montana, que adoram a liberdade e que se retiraram dos tratados, constituindo assim uma nação independente e livre. Alertamos a Família das Nações que reassumimos a nossa liberdade e independência sob a lei natural, internacional e dos EUA”.Canupa Gluna Mani, líder da Sociedade dos Guerreiros Strongheart, explica que “a saída do tratado está vestido no poder do povo Lakota e seus filhos”.“Através da nossa história e sob a Lei de Reorganização dos Povos Índios de 1934, o Congresso disse que iria rever as provisões de 1968 (Tratado de Fort Laramie) mas não o fizeram. Mantiveram algumas promessas menores mas de forma geral o tratado não foi honrado. Porque se fosse, não teríamos esse colapso colossal de alcoolismo, abuso de drogas e pobreza e não teríamos as altas taxas de encarceração nas populações prisionais masculinas e femininas”.Os Lakota, descendentes de Sitting Bull e Crazy Horse, declaram que saíram dos tratados assinados com os EUA por causa de sistemática quebra dos compromissos assumidos pelos Estados Unidos nesses tratados e reclamam agora os direitos sobre todas as suas terras.


Para os brasileiros ficarem espertos


Se a nação USA, ainda, a mais poderosa do planeta tem um país indígena encalacrado no seu patrimônio territorial, declarado por uma das três tribos Sioux, como a "República de Lakota", o que dizer da riquíssima TIRSS no nordeste do estado brasileiro de Roraima? Nações soberanas, entre elas a poderosa Rússia, já demonstram interesse no reconhecimento da independência do novo país dentro das terras do Tio Sam.
Para os brasileiros, o acontecimento que os americanos estão atualmente vivenciando serve de alerta sobre a grave ameaça de pulverização em 217 países (216 reservas indígenas + o Brasil) que paira sobre o território nacional. A questão da demarcação das terras da Serra do Sol em extensão contínua com fronteiras pobremente povoadas, ou mesmo despovoadas e desguarnecidas, é um atrativo para as nações cobiçosas ávidas por se apoderarem das riquezas que estão ficando raras no mundo e são abundantes na TIRSS.
O Supremo Tribunal Federal (STF) tem que estar ciente de que o jogo está em andamento e que a próxima jogada requer, para a vitória do Brasil, que seja executada com a fiel e sincera consciência de patriótica brasilidade.

*Uma mensagem pra os Sr(s) arduos defensores da nossa fronteira setentrional e para aqueles que considerarão impatriotico o voto do Ministro Relator do Supremo Tribunal Federal, Carlos Ayres Britto na ONU.

Reclamações internacionais de direitos humanos ajudam a fortalecer a políticas de direitos humanos e os mecanismos de proteção aos cidadãos, ao revés de constituir intromissão estrangeira, seja ela da Russia, da Venezuela, da China ou do raio que o parta!!!

Pra esses Sr(s), gostaria de lembrar que nossa Constituição Federal de 1988 e anterior a Declaração Universal dos Direitos dos Povos Indígenas da ONU ( do qual o Brasil é parte por livre escolha) e já reconhece os direitos dos nossos índios. A Declaração, a Constituição e o voto do Ministro Relator concordam entre si. Quando comunidades indígenas, por meio de suas organizações ou organizações de direitos humanos acessam o sistema internacional de direitos humanos, dentro dos requisitos de processo de direito nacional e internacional, para fazer valer seus direitos fundamentais (inclusive reconhecidos pela Carta Magna), elas estão contribuindo para que o país se auto-examine e reconheça seus limites para, daí então, poder avançar.


domingo, 12 de outubro de 2008

Cipó das Almas


Caros amigos;
O texto a seguir é uma pesquisa que eu escrevi a um tempo atrás sobre vários dos aspectos da Ayahuasca após uma conversa com amigos, na faculdade. Onde ficou evidente a falta de informação e a ignorância das pessoas que atacavam o uso ritualístico-religioso da ayahuasca, como bebida sacramental.
Recentemente o tema veio a tona em novas conversas e em novas discussões com a mesma antiga intensidade...Decidi então publicá-la aqui.
A finalidade deste artigo é lançar luz sobre a consciência desses incautos com sindrome de colonizador, esclarecer as duvidas dos curiosos ou daqueles que pretendem tomar ayahuasca pela primeira vez.



Ayahuasca significa "liana dos sonhos", "Cipó das Almas" ou "vinho dos mortos" em quéchua, designa o chá feito pelo cozimento de duas plantas originárias da floresta amazônica: o cipó jagube ou mariri (Banisteriopsis Caapi) e as folhas da rainha ou chacrona (Psychotria Viridis).
Aya quer dizer "pessoa morta, alma, espírito" e waska significa "corda, cipó ou vinho". Assim a tradução, para o português, seria algo como "corda dos mortos" ou "vinho dos mortos".
A ayahuasca serviu como base para o estabelecimento de diferentes tradições espirituais por comunidades indígenas nos países amazônicos desde tempos imemoriais. Os povos indígenas utilizaram a ayahuasca como um elo imaterial com o divino que estava entre as árvores, os lagos silenciosos, os igarapés. É que, para eles, a natureza possuía alma e vontade própria. Povos indígenas do Brasil, Peru, Bolívia, Colômbia e Equador, há quatro mil anos, utilizam a ayahuasca em seus rituais sagrados, como o padre usa o vinho sacramental na Eucaristia e os indígenas bebem o peyote nas cerimônias sincréticas da Igreja Nativa Americana.O uso ritualístico da ayahuasca é bem mais antigo que o consumo do saquê ou Ki, bebida sagrada do Xintoísmo, usada a partir de 300 a.C, feito do arroz e fermentado pela saliva feminina, sendo cuspida pelas jovens virgens em tachos.
A mesma prática é realizada pelas índias da Amazônia, quando produzem a caiçuma da mandioca, bebida ritualística indígena fundamental na dança do mariri e no ‘contato' com os deuses da floresta assombrosa.As origens do uso da ayahuasca nos países amazônicos remontam à Pré-história. Há evidências arqueológicas através de potes e desenhos que nos levam a afirmar que o uso da ayahuasca ocorra desde 2.000 a.C. Somente os ‘intelectuais de água salgada', que lêem um tomo filosófico à tarde, bebem ‘whisky' à noite e pegam sol pela manhã, para levantar argumentações contra o uso espiritual da ayahuasca. Não conhecem a força e a beleza da espiritualidade amazônica e indígena.A utilização da ayahuasca pelo homem branco é uma acolhida da espiritualidade das florestas tropicais, um banho de rio milenar e sentimental do tempo em que os povos amazônicos viviam em fraternidade econômica e religiosa.
Os ataques ao uso ritualístico-religioso da ayahuasca, como bebida sacramental, me autoriza a afirmar que podem estar nascendo interesses menos inocentes e mais poderosos do que uma simples preocupação acadêmica com a utilização de substâncias psicoativas. Nunca é bom esquecer que a ayahuasca é uma substância natural exclusiva das florestas tropicais dos países amazônicos e pode alimentar interesses econômicos relacionados a patentes e elevar a cobiça sobre a nossa inestimável biodiversidade. A ayahuasca é uma combinação química simples e ao mesmo tempo complexa, que envolve um cipó e um arbusto endêmicos do imenso continente amazônico. Simples porque a sua primitiva química material da floresta é realizada por homens comuns, do pajé ao ayahuasqueiro dos templos amazônicos.
Complexa porque envolve a elevação de indicadores psico-sociais de qualidade de vida e ajuda a atingir estados ampliados de consciência dos usuários. Isso por si só já alça a ayahuasca a um patamar superior no plano do controle científico dessas duas ervas milenares. Assim, a ayahuasca ganha contornos políticos por envolver recursos florísticos de inestimável valor psico-social e espiritual. Os seus usuários consideram o "vinho das almas" como um instrumento físico-espiritual que favorece a limpeza interior, a introspecção, o autoconhecimento e a meditação. Utilizar ayahuasca aqui na Amazônia é beber do próprio poço de nossa ancestralidade e da magia que representa a nossa milenar resistência. Aqui na floresta, protegidos pelos entes fortes de nossa religião animista e natural, nossos ancestrais não precisaram "miscigenar" sua fé. Não foi necessário fazer como os negros escravos que deram nomes de santos católicos aos seus deuses africanos. Nossos ancestrais indígenas não precisaram batizar Iemanjá de Nossa Senhora ou Oxossi de São Sebastião para se protegerem da fé unilateral do dono da terra.
É que entre nós a terra era de todos e o único dono era o senhor da chuva, do orvalho e do sol. A beleza coletiva dos recursos naturais era compartilhada por toda a aldeia, do curumim ao sábio ancião.
A ayahuasca era a essência espiritual dessa convivência material fraterna e universal entre as árvores carinhosas, os riachos irmãos, os pássaros cantores, os peixes, as larvas, os insetos, as flores. A Ayahuasca ancestral era o elo entre a terra e o espírito.
Se não fosse uma erva espiritual e mágica, trazida pelas mãos milenares dos povos indígenas amazônicos, ela não teria resistido ao tempo. Por isso é natural que a ayahuasca atraia cada vez mais o homem branco, esmagado pelo destrutivo modo de vida urbano, elitista, ocidental, capitalista.
A ayahuasca não é um chá que se consome como se bebe um líquido ácido qualquer. O seu uso é espiritual e envolve aqueles que o utilizam na mais límpida tradição de amar o próximo e reencontrar os valores que perdemos na caminhada do planeta que se dividiu em castas, cores, fronteiras e etnias.
Não entrarei no debate acadêmico sobre o uso de substâncias psicoativas por parte das religiões milenares, das eras pré-colombianas aos templos dos tempos atuais. Não tenho competência para debater os pontos de vista da medicina, da psicologia ou da etnofarmacologia. Ficarei apenas com os resultados do uso milenar da ayahuasca pelos povos indígenas e meu pouco conhecimento historico. A milenar história amazônica não registra casos de morte ou de seqüelas à saúde dos povos indígena por terem utilizado a ayahuasca. Nenhum índio deu entrada no hospital dos brancos ou foi curado pelos pajés. Aliás, as mulheres indígenas, ‘apesar' de beberem a ayahuasca, não registram nenhum caso de câncer de mama.
A ayahuasca não é "taliban", seus usuários não se constituem em nenhuma seita, eles não são fanáticos, não há um único caso de morte ou de castigo físico que tenha sido resultado do seu consumo ritualístico. O uso ritualístico da ayahuasca não provoca transes místicos ou de possessão. Ela não age no organismo como a antiga bebida hindu, denominada soma, que se divinizou por afastar o sofrimento, embriagando e elevando as forças vitais.
Depois de 4.000 anos de uso sagrado e ritualístico da ayahuasca os estudiosos da civilização ocidental erguem argumentos anêmicos e endêmicos de uma sociedade que tem medo do ‘contato' aberto do homem com a natureza. É que eles têm medo da relação amorosa entre o indivíduo e a natureza com os seus elementos poderosos e coletivos. Os sábios e avançados incas utilizaram a ayahuasca para consolidar-se como povo, como nação e para ajudar no florescimento da cultura, da matemática, da agricultura e da astronomia. Não é qualquer planta ou cipó que faz um povo, uma história milenar, uma religião. Só não puderam utilizar a sagrada ayahuasca para produzir metálicos fuzis, pois se assim fosse, não teriam sido dizimados pelos invasores espanhóis. Pizarro e Cortez não consumiram o "cipó dos mortos", por isso dizimou tantos guerreiros, mulheres índias, donzelas, pajés e curumins.
A ayahuasca resistiu, venceu os invasores e as suas crenças unilaterais, atravessou os séculos, os milênios, unificou as milenares gerações indígenas e suavizou a dor ‘civilizatória' das eras pós-colombianas.
Quando o Acre propôs, sob a iniciativa da deputada Perpétua Almeida, que o uso ritualístico da ayahuasca fosse considerado patrimônio cultural imaterial é porque ninguém mata uma alma, ninguém prende um sentimento, ninguém aniquila uma vontade e ninguém encarcera uma opinião.
A ayahuasca é diferente de outras religiões, que nascem de visões, contatos divinos, que têm origem na cosmologia do céu para a terra. A Ayahuasca é a religião da terra para o céu, da matéria eterna e natural para o infinito do sonho humano, a religião natural.
Uma verdadeira e única religião do Brasil, aliás, uma colossal e genuína religião amazônica!
Combatê-la é bizarro, síndrome de colonizador!!!
  • Legalidade da Ayahuasca e da doutrina do Santo Daime
A partir da década de 80, devido a movimento expansivo do Santo Daime ocorrido na década de 70, várias foram as iniciativas governamentais no sentido de dar a conhecer a legitimidade e a legalidade do uso religioso da ayahuasca/santo daime:
• 1982 - Nos momentos finais da ditadura no Brasil, uma Comissão formada por médicos, antropólogos, psicólogos, representantes do Ministério da Justiça, Polícia Federal e Exército, visitaram comunidades daimistas na Amazônia.
• 1984 - O CONFEN - Conselho Federal de Entorpecentes, órgão do Ministério da Justiça, cria uma Comissão de Trabalho para estudar o uso ritual do ayahuasca.
• 1985 e 1986 - Visitias da Comissão de Trabalho do CONFEN a comunidades usuárias. Confirmação de pareceres positivos de outras Comissões.
• 1987 - Conclusão da Comissão de Trabalho sobre o uso ritual da ayahuasca/Santo Daime que verificou que "os rituais religiosos realizados com a bebida sacramental Santo Daime/Ahyauasca não traziam prejuízos à vida social e sim, contribuiam para a sua maior integração, sendo notório os benefícios testemunhados pelos membros dos grupos religiosos usuários"
• ---- - Divulgação de resultado de pesquisas farmacológicas e psico-sociais que comprovaram a inexistências de riscos de adição e dependência no uso da ayahuasca em contexto ritual.• 1991/1992 - Implantação de nova Comissão que realiza novos estudos e visitas às principais entidades ayahuasqueiras e daimistas. O CONFEN posiciona-se pelo acompanhamento do uso ritual da bebida, sem nenhuma orientação proibicionista.
• 2004 - O CONAD - Comissão Nacional Anti-Drogas, atual órgão do Ministério da Justiça brasileiro, após dezoito anos de espera da comunidade daimista, reconhece a legitimidade do uso religioso da ayahuasca e a legalidade de sua prática.

sábado, 11 de outubro de 2008

Conto Xamânico Peruano



Caros amigos;
Como estão?
Bom, hojé usarei um antigo conto peruano para expor uma das coisa que mais me indigna no campo das pessoas que buscam espiritualizar-se e a elite esotérico-carnavalesca-espiritualista. Ficam por aí discutindo o sexo dos anjos, comunicando-se com ETs, criticando os que comem carne, andam por ai enrrolados em "cortinas coloridas" oferecendo livrinhos de auto-ajuda com "teorias consoladoras" de mundo que pouco funcionam na realidade...



Conta-se que vivia em alto ponto nos Andes um condor fêmea. Por razões que existem para justificar essa história essa condor estava chocando onze ovos.
Sim, onze ovos no mesmo ninho, nas alturas colocado, sob a grande condor protegidos dos ventos gelados. Do nada que eram, possibilidades erráticas, começaram os ovos a se tornar sementes, potenciais seres, os genes misturados, vindos de sua longa estrada traziam consigo o aprendizado de tantas combinações. Num certo momento os ovos começaram a ter um contato telepático entre si.
E passaram a conversar.Sobre o que conversavam? Ora, falavam sobre coisas de ovos, sobre suas fantasias de estar vivendo, da "realidade" que acreditavam viver.
Com o passar do tempo os ovos notaram que um estado de limitação, de opressão se estabelecia entre eles. Sentiam um certo desconforto e parecia que o desconforto aumentava com o passar do tempo. Algo os limitava, algo os prendia, mas não sabiam o que. Não percebiam que estando se desenvolvendo, era natural que a casca os fizesse sentirem-se presos.
Então um entre eles resolveu ser o messias, o que sabia da realidade final das coisas.- Irmãos, - pregava ele -, tive uma revelação. Descobri a causa de nosso desconforto, de nossa crescente ansiedade. Silêncio! Aquilo era importante.- O vitelo irmãos (o alimento que o pássaro vai comendo enquanto está no ovo) é o vitelo que aumenta nossa tristeza, nossa sensação de desconforto. - Sentimos desconforto porque estamos nos tornando mais materiais, mais pesados, temos que nos espiritualizar irmãos, só se nos espiritualizarmos vamos reencontrar a felicidade e leveza perdidas. Ora, isso era fato, um pássaro no ovo comendo vitelo vai ficando mais pronto e é claro que sente mais os limites do ovo.Mas não sabiam desse fato e a "revelação" do pregador parecia ter total sentido. Aí criaram o movimento fundamentalista :"Só comemos vitelo suficiente para não morrer". A nova moda era espiritualizar-se para recuperar o estado anterior de maior leveza e dissolução .
Como o crescimento acabou mais lento acreditavam que o pregador lhes revelara sublime verdade e logo declararam:- Alimentar-se é pecado!- Ficar mais denso é pecadoCrendo nisso viveram por um tempo numa languides, numa indolência, desnutrida existência, onde a pasmaceira resultante era tida por paz. Mas um dos ovos, sempre tem esse um, revoltou-se contra aquilo.- Ora, pensava, se sempre me alimentei por que vou deixar de fazer isso agora, me sinto fraco, frágil, vou é comer. E voltou a comer.
E comendo plenamento sentiu que estava oprimido, é verdade, sentiu limites, mas não deixou se angustiar por isso e descobriu que sentir os limites de sua condição não era necessariamente associado a angústia e a exasperação. Era um condicionamento responder assim. Foi logicamente excomungado da comunidade, mal exemplo a ser negado. Ovos não conhecem cores, senão teriam dito que ele era um mago negro! Aí se ovos tivessem listas de debates iam debater se magia negra é aquela que manda comer o vitelo e magia branca é o que, em beneficio da espiritualização, manda deixar de comer.
O fato é que ele continuou a se desenvolver enquanto os outros estavam estacionados. Certo dia foram todos, telepaticamente, pregar para o rebelde. Reparem que no estado de ovos eles não fazem nada, apenas imaginam que fazem. Como ovos não há agir, só fantasia de agir, por isso podem se dedicar as doutrinas mais estapafúrdias e sem nexo e ainda as sustentar por uma vida. E lá iam pregar, mudar o diferente, o perigoso, o que com seus atos negava o senso comum. E quem nega com atos é sempre mais perigoso que quem nega em teoria.
Converte-lo, salvar sua alma. O rebelde foi perdendo a paciência com aquela conversa lamurienta, pois sem comer eles não conseguiam mais pensar e ficavam repetindo a mesma frase alegando ter sido revelada pelo grande deus "Ovão".
Não era um diálogo, era um monólogo repetitivo de frases decoradas contra a argumentação do rebelde, com suas habilidades plenas por estar bem alimentado. O rebelde num movimento brusco, com sua parte mais densa (o bico) quebrou a casca do ovo. Para quem viveu no interior escuro do ovo a luz do dia entrando era trevas e no susto desapareceu do contato telepático com seus irmãos. Terror, o pregador, aproveitador como todo bom pregador já pregou:- Estão vendo o que acontece a quem desobece os sagrados mandamentos? Vamos rezar ao Ovão irmãos pela alma desse pecador que se perdeu.
Para eles o rebelde havia morrido. Mas para o mundo aqui fora, para a condor mãe o primeiro dos ovos vingara e ele nascera. Tudo era novo.A principio sentiu terror, depois extâse. E quando contemplou aqueles olhos enormes, aquele ser poderoso novo medo. Quem seria? O diabo a castigá-lo? Deus a puni-lo por ter contrariado o pregador e se alimentado? Com os dias o medo deu lugar ao assombro e este ao fascínio de estar vivo. Nem deus nem demônio, só sua mãe.
O azul do céu, o sol, os picos nevados, a Mãe Condor que agora lhe dava alimento. Dormia muito ainda, pouco notava das saídas e volta da mãe. Noite, estrelas, lua, estava extasiado.
Então se lembrou! Seus irmãos, suas irmãs naquele estado limitado dentro dos ovos, crendo no pregador. Agora ele sabia que era parte do crescimento sentir desconforto, sentir limites.
Fugir disso era fugir do sair do ovo. Do vir para este mundo, este sim real. Contou a sua mãe que queria encontrar um meio de falar com seus irmãos e explicar o que descobrira. Ela riu.- Mesmo que pudesse meu filho, como falaria de céu azul? De vento? Como falaria dos picos nevados? Quer mesmo ajudar, então te aninha quando fores dormir aqui, junto aos ovos e transmite teu calor, assim podes ajudar que choquem mais rápido.
Mesmo lentamente, um a um os ovos foram sendo chocados e nasciam. Ao final de algum tempo todos nasceram, quer dizer quase todos. O pregador não nasceu, espiritualizou-se tanto que gorou...

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Trechos de cartas enviadas à Espanha por Hernan Cortez nas quais ele narra como aniquilou a civilização asteca entre 1519 e 1526




Carissimos;
Estou meio sumido (meio não, inteiro!!!), andei um tempo sem atualizar este blog devido a trabalho, estudo, viagens e a tão temida preguiça mesmo!!!
Mas depois de todo esse tempo que fiquei hibernando, estou retornando a todo vapor e com a mesma proposta de antes...

Pra reiniciar irei postar alguns trechos das cartas enviadas à Coroa Espanhola por Hernán Cortés, um colonizador espanhol nas Américas durante a época da conquista e colonização desta região. Espanhol nascido provavelmente em 1485 em Medellín, atual província de Badajoz, foi mandado pela coroa espanhola ao Caribe para exercer trabalhos administrativos, de onde foi convocado a participar, junto ao conquistador Diego Velázquez, da conquista da ilha de Cuba em 1511, oportunidade em que obteve sua primeira experiência militar. Depois de um grande esforço político, conseguiu a patente de capitão junto a Velázquez e, em outubro de 1518, tornou-se dirigente em uma expedição à Yucatán, região em que hoje está o México. A princípio, sua função era travar acordos comerciais com os indígenas da região, porém Cortés rompeu com Velásquez e fundou uma vila independente, a qual respondia diretamente à coroa. É neste contexto que ele principia suas cartas ao rei da Espanha, Carlos V, as quais terão aqui alguns trechos publicadas.




Segunda carta
Enviada à sua sacra majestade do imperador nosso pelo capitão geral da Nova Espanha, chamado dom Hernan Cortez.
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Antes que os nativos pudessem se juntar, queimei seis povoados e prendi e levei para o acampamento quatrocentas pessoas, entre homens e mulheres, sem que me fizessem qualquer dano. (Pag. 33)
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Antes do amanhecer do dia seguinte tornei a sair com cavalos, peões e índios e queimei dez povoados, onde havia mais de três mil casas. Como trazíamos a bandeira da cruz e lutávamos por nossa fé e por serviços de vossa sacra majestade, em sua real ventura nos deu Deus tanta vitória, posto que matamos muita gente sem que nenhum dos nossos sofresse dano. (Pag. 33).
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No outro dia vieram cerca de cinquenta índios que traziam comida e começaram a olhar as saídas de nosso acampamento, bem como as cabanas onde dormíamos. Os de Cempoal vieram até mim e alertaram-me para olhar aqueles homens que eram maus e vinham espionar. Dissimuladamente prendi um deles sem que os outros vissem. [ ...] Depois tomei mais outros cinco ou seis e todos confessaram a mesma coisa. Em vista disso, mandei prender todos os cinquenta e cortar-lhes as mãos e os enviei a seu senhor para que dissessem a ele que quando ele viesse saberia quem éramos. (pag. 33, 34).
...saí uma noite, depois de rendida a guarda da prima, com os peões, índios e cavalos, e antes que amanhecesse dei com dois povoados onde matei muita gente, (pag. 34).
Terceira carta
Enviada por Hernan Cortez, capitão e justiça maior de Yucatán, chamada a Nova Espanha do Mar Oceano, ao mui alto e potentíssimo César e invictíssimo senhor dom Carlos, imperador sempre augusto e rei da Espanha, nosso senhor.
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...continuamos a fazer nossos constantes ataques à cidade, sempre provocando muito dano e matando muita gente. Há uns vinte dias que vínhamos fazendo fazendo esse tipo de ação, quando os nossos começaram a insistir comigo, dizendo que era preciso tomar o mercado. Eu me escusava argumentando que só o faria quando tivesse plenas condições. Até o tesoureiro de vossa majestade veio me dizer que todo o real queria que eu tomasse logo o mercado, pois assim os inimigos perderiam o seu posto de abastecimento e morreriam de fome e de sede, pois só lhes sobraria a água salgada da lagoa. (Pag. 89)
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...Como sempre que batíamos em retirada ao final do dia os índios atrás dos nossos cavalos em grande alarido, resolvi preparar-lhes uma cilada. [...] Depois que os nossos passaram por ali no retorno do fim da tarde, os de cavalo caíram sobre os inimigos que vinham logo atrás fazendo seu constante alarido. Foi uma cilada muito bem feita e conseguimos matar uns quinhentos dos índios mais bravos e mais corajosos. [...] graças a esta vitória que Deus Nosso Senhor nos concedeu neste dia, se tornou mais próximo o momento de se ganhar toda a cidade, porque os nativos sofreram um grande abalo [...] A única perda lamentável que tivemos naquele dia foi uma égua cujo cavaleiro caiu, e que saiu em corrida sem rumo, indo parar no meio dos nossos inimigos que a flecharam... (Pag. 93)
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Permanecemos no real uns três dias ou quatro dias descansando, enquanto se fundia o ouro recolhido, o que deu mais de cento e trinta mil castelhanos, do que se entregou o quinto ao tesoureiro de vossa majestade, enquanto que o restante foi repartido entre eu os espanhóis, de acordo com a qualificação e o serviço de cada um. Entre os despojos havia tantos discos de ouro, penachos e plumagens, coisas tão maravilhosas que por escrito não se pode fazer compreender sua beleza. Por serem tão maravilhosos, juntei todos os soldados e roguei que não fossem quintadas, mas enviadas todas a vossa majestade. (Pag. 98)
Quarta carta
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Mas, a 5 de fevereiro o dito capitão partiu novamente para lá e espero que desta feita ele possa realizar o seu trabalho, pois além de ser aquela uma terra rica em minas os seus nativos não param de importunar os seus vizinhos que se tornaram nossos amigos. [...] pedi ao capitão que os derrotasse, os matasse e tomasse por escravos os que sobrassem vivos, ferrando-os com a marca de vossa majestade. Tenha por certo, mui excelentíssimo príncipe, que a menor destas entradas me custa mais de cinco mil pesos de ouro e que as Pedro de Alvarado e de Cristóbal de Olid custam mais de cinquenta, sem contar outros gastos de minha fazenda. Porém, como é para o serviço de vossa majestade, se a minha pessoa fosse junto, isto seria uma grande honra e recompensa. (Pag. 113)