sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Reflexões sobre as Missões Jesuiticas

Essa semana peguei pra ler o livro Igreja: Carisma e Poder de Leonardo Boff.
Um livro que descreve de forma bem clara o modo como o homem branco, cristão ocidental em sua sede de poder massacrou fisicamente e ideologicamente os que julgavam ser primitivos ou atrasados.
Gostaria primeiramente de falar sobre o autor pra depois falar sobre um dos topicos do livro. Leonardo Boff nasceu em Concórdia, Santa Catarina, no dia 14 de dezembro (conhecidência?) de 1938. Fez seus estudos primários e secundários em Concórdia-SC, Rio Negro-PR e Agudos-SP. Cursou Filosofia em Curitiba-PR e Teologia em Petrópolis-RJ. Doutorou-se em Teologia e Filosofia na Universidade de Munique-Alemanha, em 1979. Ingressou na Ordem dos Frades Menores, Franciscanos, em 1959.
Em 1984, lancou "Igreja: Carisma e Poder", em razão de suas teses ligadas à Teologia da Libertação, apresentadas no livro, foi submetido a um processo pela Sagrada Congregação para a Defesa das Fé, ex Santo Ofício, no Vaticano. Em 1985, foi condenado a um ano de "silêncio obsequioso" e deposto de todas as suas funções editoriais e do magistério no campo religioso.
Bom, nesse livro notei uma semelhança ente o meu lamento e as ideias do autor sobre a questão histórica ainda não resolvida da forma como foram tratados os índios e os afrodescendentes durante a Colonização. O cristianismo em geral sempre mostrou sensível ao pobre, mas implacável e etnocêntrico diante da alteridade cultural e a cor da pele dos fieis. O outro (o indígena e o negro) sempre foi considerado o inimigo, o pagão e o infiel. Contra ele se moveram "guerras justas" e caso não fosse aceito se legitimava a submissão forçada e as vezes a tortura e a morte.
Mesmo dispondo de indignação moral não quero usar esse espaço pra atacar os efeitos dos trabalhos dos padres e da Igreja e nem levantar uma bandeira indigenista. Aqui vou expor fatos historicos com a intenção de lembrar a todos que durante 140 anos, no sul do Brasil, índios guaranis e padres jesuítas viveram uma experiência utópica que terminou com o massacre de 100 mil índios
Na intenção de propagar os princípios do Cristianismo entre povos não-cristãos. Foram criadas as Missões Jesuiticas que se baseavam nos princípíos da teologia em cumprimento do mandamento de Jesus Cristo e seus Apóstolos para pregarem o Evangelho pelo mundo. Muitas vezes faziam uso da força causando impacto cultural destrutivo sobre os povos nativos, suprimindo ou transformando radicalmente suas culturas originais e justamente por isso muitas delas encontraram forte resistência, dando origem a revoltas sangrentas onde muitos perderam suas vidas
Com a instalação das Missões os índios antes livres, coletores e caçadores que plantavam somente o que comeriam nos tempos imediatos, sem preocupação com o futuro se aculturavam na marra, passando a viver a vida dos brancos sem a menor chance de preservar o que quer que fosse seu. Enquanto à Coroa interessava expandir os limites das terras sob o comando da Companhia de Jesus que pretendia acalentar o projeto de um Estado teocrático.
Mas para entender melhor essa longa convivência, de quase um século e meio, é preciso voltar ao início, por volta de 1610, quando as primeiras reduções foram estabelecidas, no atual limite entre o Paraguai e o estado brasileiro do Paraná. Os índios das Missões, cujos humores guerreiros haviam sido abrandados pelo cristianismo, viraram presas fáceis dos bandeirantes oriundos de São Paulo que corriam o Sul em busca de riquezas e de mão-de-obra escrava.
Não sou hipocrita a ponto de acreditar que antes dos primeiros cristãos terem contatos com esses povos ele viviam em um mar de rosas. Mas se antes havia o respeito e relativa paz a partir do momento que os brancos chegaram também trouxe com ele a fome, doenças e guerras em nome de interesses privadíssimos.
E no dia da Consciência Negra venho lembrar a todos dos crimes históricos cometidos contra a humanidade como noutros tempos ocorreu em Canudos, no Contestado e em Palmares. Fora os que ocorreram em outros paises...
Que todos saibam que história não pode ser negligenciada.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Coragem e Confiança

Como saber se podemos confiar nas pessoas?
Sinceramente não sei. A mente de cada um é um livro lacrado, o máximo que podemos fazer é vislumbrar algumas páginas com muito custo, entretanto, é impossível ter certeza (absoluta/ Pleonasmo). Não podemos prever exatamente o futuro, então, em nossa busca por certezas, somos muitas vezes forçados à olhar para o passado, e ignorar o presente como constante.
Mas de uma coisa eu sei. Para confiar é preciso coragem, pois entendo que a verdadeira liberdade encontra-se na doação de si mesmo ao outro, e quanto mais nos doamos, mas nos tornamos livres. O mesmo pode ser afirmado com relação a categoria existencial, pois somente o que é capaz de nos dar alegrias é capaz de nos elevar a nos constituir como pessoas humanas em sua plenitude, pois se a vida é um dom, existir é uma tarefa de cada Indivíduo.
Edificar o sentimento de coragem e confiança é essencial para que nós como indivíduos singulares possamos superar o estágio “vegetativo-sensitivo” ao qual fomos condicionados pelo mundo. Essa é a sede da verdadeira vida que deve ser a causa do edificante, e esta verdadeira vida se encontra não no amor mas na confiança e na coragem de arriscar-se.
Certa vez li que para voarmos devemos arremesar primeiro a alma, que o corpo vem em seguida...
Talvez isso explique minha particular adimiração pelos trapezistas. Homens simples como nós, dotados de medos mas que ousam e arriscam tudo na precisão de um segundo. Da mão que se estende da mão que procura, dos corpos que balançam harmoniosamente e que de súbito se projetam no vazio. Gosto do seu jeito de voar, da imperiosa necessidade de todos os seus gestos, da sua vocação de salvar vidas. Gosto porque jogando, levam a vida a sério, gosto porque decidem, sem tempo para hesitar. Gosto porque confiam e porque tem coragem...
Nesse fim de semana cheguei a conclusão que a vida deve ser vivida em sua inteireza contingencial, com todos os desdobramentos que esta nos apresenta. Pois existir é estar no mundo, de forma plena, não almejando o céu ideal agregado ao nosso imaginário, que serve sempre de subterfúgio quando somos confrontados a viver em absoluta responsabilidade para com os outros, enquanto pessoas clamam por amor e compaixão a partir do chão real da existência. Viver é arriscar, pois a vida exige que a encaremos sem mascaramentos, sem anteparos, sem segurança e desfechos previsíveis
Arriscar é, portanto, preciso. Acordar para o mundo é preciso. Encante-se com as portas que se abrem à frente a cada novidade que surge em sua vida. Não permita que a porta se feche antes que você tenha visto o que havia do outro lado. As pessoas que ficam assim começam, depois de alguns anos, a sentir um enorme vazio no peito. Só então saem desse estado permanente, acordam para o mundo e constatam, decepcionadas, que não criaram nada, não arriscaram nada, não aproveitaram nada. O problema é que isso costuma acontecer tarde demais...
Bom, esse é meu ponto de vista. Quanto a debater sobre "por que vale à pena correr o risco" ou qualquer outro assunto que tenda ao romantismo e/ou escatológico deixo a cargo de quem ler esse post. Mas que todos saibam que a recompensa pode ser simples mais é a mais gratificante do mundo. Um momento, um sorriso, um olhar, uma nesga de luz que oculta contextualizações mais complexas que as divagações da fala e do ouro podem oferecer...

*Esse pequeno tratado é para uma pessoa especial que, por motivos óbvios, omiti o nome. O que não retira nem um pouco a beleza do texto. Deixei para fazer essas considerações no final para que o subjetivismo não maculasse a leitura. Espero que tenham gostado.